O Brasil pode ser a quinta maior
potência econômica no futuro, se garantir desde
agora reformas estruturais essenciais, aponta um estudo do
banco de investimentos Goldman Sachs.
Em entrevista à BBC Brasil, a co-autora da pesquisa
“Sonhando com BRICs: o caminho para 2050”, Roopa
Purushothaman, disse que, comparado às demais economias
emergentes, o Brasil tem apresentado a performance mais “decepcionante”
e, se pretende estar entre os maiores PIBs (Produto Interno
Bruto) do mundo, terá que se sujeitar a determinadas
condições.
“Em especial no Brasil, é preciso investir mais
em educação, aumentar a poupança interna,
reestruturar suas instituições e abrir o mercado”,
afirmou a economista.
Segundo o levantamento do Goldman Sachs, nos próximos
50 anos, Brasil, Rússia, Índia e China (identificados
pela sigla BRIC) poderiam se tornar as maiores economias globais.
O PIB total desses quatro países seria maior que o
PIB do G6 (Estados Unidos, Japão, Grã-Bretanha,
Alemanha, França e Itália).
Em 2025, essas economias já seriam metade do tamanho
do G6. Hoje, essa proporção é de 15%.
Milagre
“Não estamos assumindo que ocorra um milagre”,
diz Roopa. “Tais previsões são realistas,
mas o Brasil e a Índia são os países
que têm mais trabalho a fazer”.
A pesquisa constata que, entre os BRIC, o Brasil é
o único a registrar taxas de crescimento abaixo das
projetadas pelo banco de investimentos, sugerindo que mais
medidas precisam ser tomadas no Brasil do que em qualquer
outro lugar.
As previsões poderiam se tornar otimistas demais caso
não houvesse profundas reformas estruturais.
Nos últimos 50 anos, a taxa de crescimento do PIB
brasileiro foi de 5,3%, mas vem caindo acentuadamente desde
a crise da dívida na década de 80. Na última
década, o PIB cresceu, em média, 2,9% comparado
com os 5,3% nos anos 50.
A excessiva dependência de financiamento externo e
a alta dívida pública em parte explicaram o
declínio do crescimento no país.
A redução de investimentos, em particular em
infra-estrutura, também teve grandes consequências
para a produtividade.
A recuperação temporária do financiamento
externo ou a melhora de algumas estatísticas poderiam
contribuir para o crescimento do país por um determinado
tempo, mas não quebrariam a tendência histórica
de queda do PIB.
A economista do Goldman Sachs acredita que o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva está fazendo alguns progressos.
A estabilidade macroeconômica, um ponto essencial, estaria
a caminho.
Isso levaria o país a crescer nos próximos
anos a uma taxa de em torno de 3,5% anuais.
Mas, sozinha, a estabilidade macroeconômica será
insuficiente para sustentar o crescimento nos níveis
projetados no estudo.
Pontos-chave
Roopa afirma que o país não tem um mercado aberto
ao comércio, a poupança interna é baixa
(a taxa de investimentos e poupança representam cerca
de 19% do PIB, enquanto que na China essa proporção
é de 36%) e as dívidas externa e interna são
muito altas.
Além disso, o governo brasileiro precisaria investir
mais em educação e melhorar a eficiência
de suas instituições, como o sistema judiciário,
o mercado financeiro e a burocracia governamental.
O estudo conta com a possível interferência
de acontecimentos que afetem a performance das economias,
como, por exemplo, uma brusca queda do comércio mundial.
Mesmo assim, explica Roopa, as projeções ainda
seriam válidas porque são expectativas para
o longo prazo.
Para a construção do modelo, o Goldman Sachs
levou em consideração três pontos: o crescimento
do PIB, a renda per capita e o movimento das moedas.
Dois terços do aumento do PIB do BRIC, em dólar,
viriam do crescimento real da economia, enquanto que um terço
seria da valorização das taxas de câmbio,
em média, de 2,5% ao ano até 2050.
Os economistas defendem que o levantamento não é
uma projeção que esteja muito longe da realidade
e lembram que, 30 a 50 anos atrás, o Japão e
a Alemanha estavam lutando para ressurgir no cenário
internacional após um período de reconstrução.
Para provar que o modelo é confiável, foi feita
uma análise dos dados passados. Aplicando a mesma metodologia,
verificou-se a performance de 11 economias (entre elas, Estados
Unidos, Grã-Bretanha e Japão) desde 1960 e foi
projetado o PIB delas nos 40 anos seguintes.
Os resultados foram encorajadores, segundo os economistas.
Em geral, a média das taxas de crescimento projetadas
durante o período ficou surpreendentemente próxima
aos dados atuais.
“Apesar dos desafios, achamos que vale a pena levar
as projeções a sério”, concluem
os economistas.
ADRIANA STOK
Da BBC Brasil, em Londres
|