Enquanto o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, pedia novamente
desculpas aos aposentados e pensionistas do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social), dezenas de idosos esperavam até
três horas na fila de um posto em Copacabana (zona sul
do Rio). Eles reclamavam que não tinham recebido o
pagamento dos benefícios, que deveria ter sido normalizado
anteontem, de acordo com o Ministério da Previdência
Social.
Berzoini esteve no Rio ontem de manhã a convite de
representantes de entidades de defesa dos direitos dos idosos.
O Estado teve 23 mil pagamentos bloqueados. Segundo o ministro,
o Rio foi o Estado que apresentou o maior número de
problemas relacionados ao pagamentos dos benefícios.
A aposentada Maria Alzira Garcia, 101, procurou de manhã
o posto da Tijuca (zona norte), onde mora, para fazer o recadastramento.
O funcionário que a atendeu disse que ela teria de
ir ao posto de Copacabana.
Sem receber
Garcia deveria ter recebido a aposentadoria de R$ 240 no quinto
dia útil (sexta-feira passada) do mês, mas o
dinheiro foi bloqueado e ela só conseguiu recebê-lo
ontem. A aposentada foi fazer o recadastramento para não
ter de enfrentar fila caso o governo fixe um novo prazo.
A professora aposentada Ana Elisa Lacerda de Miranda, 67,
disse que seu pagamento foi suspenso indevidamente, pois tem
menos de 90 anos. Até ontem de manhã, ela não
havia recebido, apesar da promessa do ministério de
liberar o dinheiro anteontem.
Miranda disse ter feito o recadastramento na última
quinta-feira, dia em que deveria receber. Com o documento
na mão, ela tentou, sem sucesso, receber os R$ 787,98
de sua aposentadoria.
A pensionista Maria Machado, 90, professora de sapateado
aposentada, continua com o benefício de R$ 240 bloqueado.
Ela foi ao posto acompanhada da filha, Amélia Machado,
que dizia estar indignada por ter ficado sabendo da exigência
de recadastramento e do bloqueio pelos meios de comunicação.
"Foi uma intervenção inconstitucional,
como fez o Collor com as cadernetas de poupança",
disse ela.
Berzoini admite erro
Berzoini admitiu que houve bloqueios indevidos no Rio. O ministério
suspeita que haja muitos benefícios pagos indevidamente,
em nome de pessoas que já morreram.
"Não são apenas os atingidos pela medida
que foram submetidos a constrangimento. Ele atinge, inclusive,
o próprio ministro, que assistiu às cenas e
reconheceu esse erro", afirmou Berzoini.
Para ele, a equipe que trabalhou na proposta de recadastramento
"cometeu muitos erros, mas com vontade de acertar".
Afirmou que o maior erro foi vincular o recadastramento ao
bloqueio, o que causou filas e correria aos postos e agências
do INSS.
Após a reunião, Berzoini disse que muitas falhas
poderiam ter sido evitadas se o ministério tivesse
maior contato com a sociedade.
FABIANA CIMIERI
Da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio
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