Depois do tumulto causado na semana
passada pela suspensão do pagamento de benefícios
a aposentados com mais de 90 anos, o Ministério da
Previdência Social decidiu tornar voluntário
o recadastramento dos 105 mil aposentados e pensionistas que
estão nesse grupo. Parte desses benefícios apresenta
indícios de irregularidades, segundo o governo.
"Neste momento, o recadastramento será totalmente
voluntário. A pessoa que quiser poderá regularizar
sua situação", disse o ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini. "Posteriormente, vamos definir uma
maneira mais adequada e mais confortável para o segurado
se recadastrar."
O aposentado poderá comparecer a uma agência
do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), enviar um familiar
em seu lugar ou contatar o Prevfone (0800-78-0191) para se
recadastrar.
Na semana passada, o INSS bloqueou o pagamento a aposentados
com mais de 90 anos que recebem benefícios há
mais de 30 anos e de inativos com mais de cem anos. A medida
atingiu os aposentados com benefícios de final 1 a
5 e seria estendida aos demais nesta semana.
O objetivo era fazer com que essas pessoas se recadastrassem,
e o INSS pudesse verificar a existência ou não
de fraudes. O bloqueio gerou tumultos e críticas, levando
o ministério a suspender o bloqueio. Na sexta-feira,
Berzoini declarou em entrevista, pela manhã, que não
pediria desculpas pela medida, mas no final do dia desculpou-se
publicamente.
O ministro afirma que essa foi uma decisão pessoal
e nega que o pedido de desculpas tenha sido recomendado pelo
Palácio do Planalto. "Se fosse, não teria
problema nenhum. Tanto o presidente da República [Lula]
como a Casa Civil [José Dirceu] têm a prerrogativa
de coordenar o governo", disse. A Folha apurou, porém,
que houve uma orientação do Planalto para o
pedido de desculpas.
Relatório para Lula
"Na entrevista, eu ainda não estava convencido
da dimensão do erro cometido. Mas, num caso como esse,
acho que mudar de opinião é importante",
afirmou. "Faço questão de deixar claro
que não houve essa conversa [com o Palácio].
Na sexta-feira, nem sequer tive a felicidade de conversar
com o ministro José Dirceu ou com o presidente Lula."
Berzoini disse que elaborou um relatório sobre o episódio
para levar a Lula, que estava em viagem à África,
mas, por problema de agenda, ainda não tinha conseguido
marcar uma reunião com o presidente.
Segundo ele, o ministério estuda a possibilidade de
enviar funcionários do INSS à casa de todos
os aposentados com problemas para se deslocar para recadastrá-los.
Não há prazo para concluir o recadastramento,
embora o ministério inicialmente trabalhasse com a
data de 31 de dezembro para concluir a operação.
Na semana passada, foram recadastrados cerca de 5.000 aposentados,
segundo o INSS. O ministro disse que já há casos
comprovados de irregularidades de pessoas que vinham recebendo
o benefício em nome de aposentados que já morreram.
O ministério divulgará os casos até o
final da semana. Berzoini vai hoje à Câmara dos
Deputados explicar o episódio do recadastramento.
JULIANNA SOFIA
Da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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