Pelo menos 25% dos moradores de
São Paulo já foram vítimas de estelionato
na cidade nos últimos 12 meses. Entre as modalidades
de estelionato, a líder em fraudes é a emissão
de dinheiro falso, que atinge 15% dos paulistanos. No ranking
das fraudes, o segundo lugar é o cheque sem fundos,
que responde por 7% dos casos.
Os dados constam da pesquisa sobre vitimização
em São Paulo realizada pelo IFB (Instituto Futuro Brasil)
na qual foram ouvidas mais de 20 mil pessoas, em 5.000 domicílios
na cidade nos últimos 12 meses. Trata-se do levantamento
mais abrangente do gênero já feito no Brasil.
O economista Cláudio Haddad, presidente do IFB, disse
que ele mesmo se mostrou surpreso com a quantidade de dinheiro
falso que circula no Brasil. Ele atribui esse percentual expressivo
à estabilização da economia, conquistada
com o Plano Real.
Antes da estabilização,
Haddad diz que o normal era falsificar dólar, que era
uma moeda estável. Agora, como a moeda no Brasil não
perde mais o valor como no período da inflação,
o real se tornou uma opção para os falsificadores.
"A tendência natural é falsificar moeda
estável", afirma Haddad.
O próprio Banco Central já tinha constatado
o aumento do volume de dinheiro falto, desde o Real. No ano
passado, o BC computou 180 mil notas falsificadas de R$ 50.
De acordo com a pesquisa do IFB, o número de vítimas
de notas falsificadas é o dobro do total de casos registrados
com cheques sem fundos, que estava batendo recordes até
há pouco tempo.
De janeiro a agosto deste ano, a Serasa (Centralização
dos Serviços Bancários) registrou o maior volume
de devoluções de cheques desde que esse indicador
começou a ser calculado, em 1991. Foram 15,9 cheques
devolvidos a cada mil compensados.
O grande problema constatado pela pesquisa é que as
vítimas da fraude do dinheiro falso não se queixam
à polícia. Só 2% das pessoas registram
a fraude em boletins de ocorrências nas delegacias.
Já em relação ao cheque sem fundos, as
queixas são maiores, apesar de também serem
muito pequenas. Dos 7% das vítimas desse tipo de fraude,
apenas 3,6% informam à polícia.
Haddad diz que, no caso de fraudes como de falsificação
de dinheiro e de cheque sem fundos, a vítima prefere
esquecer o assunto. Bem diferente, por exemplo, do que ocorre
no caso de furto de automóveis, no qual 90% das vítimas
registram a ocorrência nas delegacias.
Além de falsificação de dinheiro e cheque
sem fundos, a pesquisa constatou também as seguintes
modalidades de estelionato: desvio de linha telefônica
residencial (2%), fraude contra cartão de crédito
(1,4%) e produtos não entregues (1,3%).
Outros tipos de estelionato como documento falso, celular
clonado e fraude em investimento foram registrados em 3,5%
do total de vítimas entrevistadas.
Haddad diz que esses dados sobre estelionato tornam-se mais
preocupantes em razão de seu efeito nocivo sobre o
desempenho da economia.
Embora não seja possível
medir o impacto do estelionato sobre o PIB (Produto Interno
Bruto), sabe-se que a disseminação desse tipo
de golpe, como a emissão de notas falsas e o cheque
sem fundos, só aumenta a desconfiança da sociedade
e dificulta a realização de negócios.
Guilherme Barros,
da Folha de S.Paulo.
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