O crime brutal dos jovens namorados
levantou uma questão: as instituições
para infratores são capazes de recuperar menores que
matam sem piedade?
A Febem de Franco da Rocha, em São Paulo, possui 270
jovens e adolescentes que cometeram crimes e nenhuma medida
sócio-educativa.
São dez jovens em cada cela. Quase todos reincidentes
e o próximo crime pode ser ali mesmo. Dois infratores
e um funcionário já foram mortos esse ano. Internos
mostram hematomas, funcionários apresentam fraturas.
Alguns agentes foram mantidos reféns e espancados
por mais de uma hora. Um perdeu um dedo, e quase a vida. “Só
na cabeça aqui tem 30 e poucos pontos, aqui no braço,
mais alguns na testa, aqui me furaram”, diz um interno.
Um outro também tem medo de ser identificado. “Eles
falam a gente pode matar qualquer um de vocês. Mesmo
no confronto, se você arrebentar um deles você
vai preso”, afirma. Nas celas, a denúncia não
é só de espancamento. Policiais da muralha são
acusados de praticar tiro ao alvo com balas de borracha.
“Nós aqui xepando, comendo e eles dando tiro.
Ó o tamanho da bala”, diz um interno. A equipe
do Jornal da Globo gravava a reportagem quando explodiu mais
uma rebelião, dessa vez na unidade vizinha.
Acompanhamos o pânico dos funcionários e a revolta
dos 90 internos. Por causa de uma tentativa de fuga frustrada,
eles destruíram parte das instalações,
fizeram nove reféns e só se acalmaram depois
de muita negociação.
A maior parte dos internos em franco da rocha já passou
dos 18 anos. O que eles tem de idade, o juiz Eduardo Cortez
tem de experiência na vara de infância e juventude.
Cansado de ouvir as críticas ele visitou a unidade
de Franco da Rocha. Saiu de lá envergonhado.
“Aqui quando eu os interno eu falo que é para
melhor situação deles e quando cheguei lá
e constatei aquela situação desumana eu fiquei
extremamente vexado porque o que eu havia prometido não
estava sendo cumprido”, afirma Cortez.
A procuradora do Ministério Público do Trabalho,
Cristina Ribeiro, concluiu que falta treinamento e segurança
para quem passa boa parte da vida em situação
de risco.
“Esses internos dificilmente vão ter uma reeducação
para se reintegrar à sociedade e por parte dos agentes
eles também estão despreparados para trabalhar
com os internos”, afirma ela.
Rigor sem violência e uma profunda mudança no
sistema. Essa é a esperança da Justiça.
“Espalhar esses adolescentes para unidades menores pela
capital e interior. Colocando-os mais perto dos familiares
e haja um processo de ressocialização e acompanhamento
para que quando eles saírem da unidade, eles possam
ter um convívio social tranqüilo”, diz Eduardo
Cortez.
“Embora tenhamos feito de tudo para aplicar as medidas
sócio-educativas eles não querem, insistem em
não praticar. Enquanto a maioria dos adolescentes ainda
tem uma resposta adequada” diz Paulo Sérgio De
Oliveira e Costa, presidente da Febem.
A Justiça deu à Febem 20 dias para reformar
a unidade de Franco da Rocha. O lugar deve ter espaço
para que os internos recebam tratamento de Saúde, educação
e sejam separados por idade e gravidade dos crimes. Se a determinação
não for cumprida o presidente da Febem poderá
ser afastado.
As informações são
do Jornal da Globo.
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