No primeiro ano do governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, o nível de emprego da
indústria paulista, a mais importante do país,
ficou negativo em 0,08%: o setor demitiu 1.351 trabalhadores
a mais do que contratou. O resultado do mês passado
foi decisivo para o saldo negativo. Foram fechadas 11.307
vagas, a maior queda (0,74%) no nível de emprego mensal
em 2003 e o pior desempenho para dezembro desde 1998.
Desde 1995, apenas em 2000, quando foram criadas 27.416 ocupações,
o setor industrial de São Paulo apresentou saldo positivo
no emprego. Em nove anos (entre 1995 e 2003) foram eliminados
673.116 postos de trabalho no setor -o número de empregados
na indústria reduziu-se de 2,2 milhões para
1,526 milhão.
Depois de experimentar grande retração entre
abril e agosto (coincidindo com período de forte aperto
de crédito e juros altos, inibidores de demanda), com
a perda de 15.514 postos, a indústria paulista esboçou
reação entre setembro e novembro, quando praticamente
foram repostas as vagas eliminadas.
Isso levou a Fiesp (Federação das Indústrias
de São Paulo) a prever que o setor fecharia 2003 com
aumento no nível de emprego comparado a 2002 ou, no
mínimo, estável.
Até novembro, a conta estava positiva em 9.956 vagas
criadas. A partir desse dado, a Fiesp estimava que fecharia
o ano com saldo entre 2.000 e 5.000 vagas -variação
positiva de 0,5%. O cálculo considerava o fato de que
tradicionalmente dezembro é um mês de demissões
na indústria. Ou seja, surpreendente não foi
o resultado negativo de dezembro, mas o tamanho do tombo.
A queda foi a maior em termos percentuais desde agosto de
2002 (0,98%).
"O resultado de dezembro não demonstra o início
de um ciclo de problemas", diz Claudio Vaz, diretor do
departamento de pesquisas econômicas da Fiesp.
Pela avaliação de Vaz, os planos de demissões
voluntárias (PDVs) e o encerramentos de contratos temporários
de trabalho foram as determinantes para o resultado em dezembro.
A justificativa encontra respaldo se considerado que a indústria
automobilística, que eliminou 979 vagas em 2003, a
maioria via PDVs, foi um dos setores com maior variação
negativa no emprego no mês passado (3,59%). "Cerca
de 3.000 demissões no mês passado foram voluntárias",
disse Vaz.
Na lista dos setores que mais demitiram em dezembro aparecem
ainda congelados e supercongelados (queda de 6,74% no nível
de emprego) e relojoaria (5,73%).
Pela previsão da Fiesp, o emprego na indústria
deve aumentar entre 1,5% e 3% em 2004. A federação
parte da premissa de que o mercado doméstico se reaquecerá
devido à recomposição de salários
ocorrida em algumas categorias no final do ano passado, à
queda dos juros e à elevação dos recursos
disponíveis para crédito.
Nesse caso, os setores mais beneficiados seriam os de vestuário,
de alimentação, altamente demandantes de mão-de-obra,
e de linha branca (eletrodomésticos). "Se tivermos
uma situação na qual dependamos apenas das exportações,
que continuarão ativas, o aumento no nível de
emprego será de 1,5%. Se a isso for somada essa esperada
melhora no mercado interno, o nível de emprego pode
crescer 3%", declarou o diretor da Fiesp.
A retomada de contratações ocorreria apenas
a partir de abril. O diretor argumenta que a atividade industrial
recuperará fôlego em março, ao final do
período de férias, com reflexos nos indicadores
de emprego no mês seguinte.
Segundo ele, no que se considera cenário provável,
a economia crescerá 3,5% -e a indústria registraria
expansão de 4,5%.
JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S. Paulo
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