Em meio
ao debate reaceso sobre a redução da maioridade
penal e de punições mais rigorosas para os menores
infratores, levantamento da Agência Folha constatou
que o governo federal liberou apenas 4,51% dos R$ 50,8 milhões
previstos no Orçamento da União de 2003 para
o programa "Reinserção Social do Adolescente
em Conflito com a Lei".
O ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, responsável pelo programa, deu
ontem duas explicações para isso: o contingenciamento
das verbas do Orçamento (redução de gastos)
e a omissão de boa parte dos Estados e municípios
na apresentação de projetos, já que são
eles os executores.
"O papel da União é emergencial, é
de parceria, mas não é de construir e manter
o sistema, não. [A obrigação] É
dos Estados e municípios. Nos Estados, sim, existe
uma omissão muito grande", afirmou o ministro.
Embora minimize o efeito do contingenciamento de verbas promovido
pela área econômica do governo, ele admite que
alguns Estados e municípios apresentaram projetos,
que foram aprovados, mas faltou dinheiro.
O ministro não soube dizer o total de pedidos, mas
citou o caso de Goiás e de municípios do entorno
do Distrito Federal, além de um projeto de liberdade
assistida da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil).
Em São Paulo, de acordo com a Febem, o último
repasse para o programa foi de R$ 1,8 milhão, em 2002.
"São Paulo tem pedido verbas federais para ajudar
em ações da Febem e até agora não
recebeu", disse o presidente da entidade, Paulo Sérgio
de Oliveira e Costa, na semana passada,
Os R$ 2,29 milhões (4,51%) liberados até o último
dia 7 correspondem a menos de 10% do liberado para o programa,
em 2002 (R$ 22,52 milhões), último ano da gestão
de Fernando Henrique Cardoso. Foram R$ 1,64 milhão
da secretaria e R$ 654 mil do Ministério do Esporte,
que liberou (82%) do previsto para a área.
Mas o ministro classificou de "irreal" o valor orçado
de R$ 50,8 milhões. Disse que foram emendas apresentadas
no Congresso que fizeram o Orçamento do programa atingir
esse valor.
Segundo ele, o Orçamento original para a toda a sua
pasta era de R$ 23 milhões, não apenas para
o programa de reinserção social do adolescente
-em viagem, Nilmário não soube dizer o valor
só para o programa. "Quando começou o contingenciamento,
tive de priorizar o programa de proteção a testemunhas,
porque esse não pode faltar. Não há como
mandar a testemunha para casa e dizer que espere o dinheiro
chegar."
A secretaria diz que vai liberar mais R$ 8 milhões
até o final do ano. São recursos do Orçamento
e de empresas estatais que estão sendo vinculadas ao
Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente, que
compõe o Orçamento.
A verba do Ministério do Esporte foi destinada ao projeto
"Produção de Material Esportivo por Menores
Infratores - Cidadania ao Menor" em todo o país.
A parte da Secretaria Especial dos Direitos Humanos foi para
implantação de serviços de atendimento
a adolescentes com medidas socioeducativas não-privativas
de liberdade (R$ 540 mil), construção de unidade
de atendimento para adolescentes em conflito com a lei (R$
697 mil) e modernização das unidades existentes
(R$ 403 mil).
Nilmário disse que a aplicação foi em
"projetos-piloto, de capacitação e de incentivo"
aos Estados e municípios. "A Constituição
e o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mandam
descentralizar. Todos os programas são estaduais e
municipais. A gente ajuda, não executa. O problema
é dos Estados mesmo."
Paulo Peixoto,
da Agência Folha
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