Para o historiador
e cientista político Átila Roque, a parceria
do setor público com o terceiro setor é uma
tendência crescente, que serve a propósitos opostos:
a valorização da participação
da sociedade e a ideologia neoliberal que prega a redução
do papel do Estado.
Ex-coordenador do Ibase (Instituto
Brasileiro de Análises Socioeconômicas), hoje
diretor da Action Aid USA, Roque diz que há uma tendência
de fortalecimento da cidadania, com a cooperação
crescente entre ONGs e governos. "Outra tendência
foi a difusão da ideologia neoliberal que propõe
a privatização (e não a ampliação)
da esfera pública e o esvaziamento crescente do papel
do Estado", afirmou.
Entre as vantagens desses projetos,
Roque aponta a difusão de experiências que agregam
governo e sociedade civil, como a campanha contra a fome,
criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997).
Maria Alice Rezende de Carvalho, socióloga
e professora da Escola de Governo e Políticas Públicas
do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro), disse que, "de modo geral, a parceria
entre agências estatais e o terceiro setor parece dizer
respeito a contextos em que a capacidade de formulação
e implementação de políticas públicas
vê-se enfraquecida".
Ela ressalta que projetos experimentais
podem ser testados por ONGs, mas que tem havido reiterada
ação entre agências estatais e o terceiro
setor para cumprimento de itens básicos da agenda social.
"O fato de essas parcerias, em sua maioria, terem lugar
em regiões pobres revela uma tendência de substituição
da presença do poder público na sua forma tradicional",
disse Carvalho, acrescentando que, se isso garante agilidade
em algumas políticas locais, dificulta o controle social
sobre os recursos estatais.
As informações são
da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio.
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