Pelo
menos 471 municípios de 25 Estados que não prestaram
contas dos recursos de 2003 do Programa Nacional de Alimentação
Escolar perderam o segundo repasse do dinheiro da União
para a merenda escolar. Já foram distribuídos
R$ 157,1 milhões pelo Ministério da Educação.
Levantamento feito pela Agência Folha constatou que
92,4% das cidades inadimplentes têm Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) abaixo da média
do seu respectivo Estado. São as que, em tese, menos
dispõem de recursos para a promoção social
de suas populações.
Alguns desses municípios são muito pobres,
com IDH-M considerado baixo (até 0,499). São
os casos de Guaribas (PI) e Manari (PE), que ocupam, respectivamente,
o antepenúltimo e o último lugares na classificação.
O índice varia de zero a um.
Também está na lista Itinga, no Vale do Jequitinhonha
(MG), cidade que, como Guaribas, foi visitada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e 29 ministros após
a posse, em janeiro de 2003, para que vissem a miséria
e a fome.
O levantamento foi feito no último dia 5, 12 dias
após ter sido repassada a segunda parcela da merenda
-são dez parcelas anuais, de fevereiro a novembro.
Na quinta passada, após nova checagem, 77 cidades,
entre elas Itinga, já tinham apresentado as contas,
mas isso não lhes dá o direito de receber as
parcelas já enviadas.
O dinheiro da merenda para alunos da pré-escola e
do ensino fundamental repassado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) é um complemento para
a alimentação diária das 37 milhões
de crianças de escolas públicas. O programa
foi criado para suplementar a alimentação e
garantir 15% das necessidades nutricionais.
O valor per capita/dia de alimentação escolar
repassado pelo MEC é de R$ 0,13. São computados
20 dias letivos/mês. Por lei, o recurso maior deveria
ser das prefeituras, mas muitas vezes o dinheiro do MEC é
o principal, quando não é o único.
Freqüência escolar
Em regiões pobres, a merenda chega a ser a única
refeição das crianças. Até por
isso, ela funciona como garantia de freqüência
escolar dos meninos e meninas.
Educação e alimentação estão
ligadas diretamente à melhoria do índice. Por
exemplo: na divulgação do IDH-M, em 2002, constatou-se
que a educação foi responsável por 60,78%
do aumento do índice no Brasil entre 1991 e 2000.
O avanço tem relação direta, também,
com a freqüência escolar, que, em 2000, era de
79,9% -o indicador engloba ainda a renda e a longevidade.
O Acre é o único Estado onde todos os municípios
(22) estão em dia com as contas. Também não
há irregularidades no Distrito Federal. Nos demais
Estados, o percentual de inadimplência varia de 3,9%
(RS) a 66,7% (RR).
Em Roraima, 10 dos 15 municípios estão em débito.
O IDH-M de sete deles varia de 0,542 a 0,676 (são considerados
médios os valores entre 0,500 e 0,799).
Mesmo nos Estados com índice alto (acima de 0,800),
a inadimplência ocorre entre cidades mais pobres. Em
Santa Catarina, só 1 dos 23 inadimplentes tem índice
superior ao do Estado (0,822). Em São Paulo (0,820),
com 49 devedores, são três nessa situação.
PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
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