Os alunos
do curso de produção com ênfase em plástico
da Fatec (Faculdade de Tecnologia) Zona Leste, em São
Paulo, assistem apenas a aulas teóricas: o laboratório
com máquinas industriais para treinos práticos
ainda não está instalado.
Na unidade de Botucatu (interior do Estado), as máquinas
disponíveis no laboratório de mecânica
datam dos anos 80. Na Fatec São Paulo, alunos aprendem
versões em desuso do software gráfico Autocad.
Os exemplos acima são reflexos pontuais de uma situação
conflitante que atinge parte das 17 faculdades de tecnologia
com formação superior, mantidas pelo governo
do Estado de São Paulo e em greve há dois meses.
Ao mesmo tempo em que vivem um período de expansão
-em 2003, cinco unidades foram inauguradas e, neste ano, outras
três-, as faculdades convivem com equipamentos ultrapassados
e com a falta de materiais.
"Tive um aluno que já trabalhava na área
de mecânica e, quando ele viu os durômetros [equipamento
usado para medir a dureza dos materiais] da Fatec, ficou espantado
e chamou o laboratório de "museu'", diz Margaret
Leme Andrade, 44, professora da Fatec Sorocaba, uma das maiores
e mais antigas unidades da rede.
Para Andrade, os cursos da unidade só não estão
muito desatualizados porque alguns docentes firmam convênios
com empresas locais para que os estudantes tenham algum contato
com o maquinário utilizado hoje em dia.
Celso Conto Júnior, professor da Fatec São
Paulo, avalia que o aluno da Fatec de dez anos atrás
tinha muito mais conhecimento prático atualizado que
o aluno de hoje. Conto diz que muitos professores tem de fazer
uso de fotos e filmes do maquinário em uso hoje para
apresentá-lo aos alunos.
Vocação
Hoje, há 17 Fatecs no Estado. Elas foram criadas para
responder às demandas de educação para
o trabalho, atendendo às potencialidades de mercado
de cada região. As Fatecs abertas nos últimos
anos, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém,
têm uniformizado as particularidades de cada cidade
em torno sobretudo de um único curso: informática
com ênfase em gestão de negócios, que
não exige muito investimento, uma vez que requer só
um laboratório com computadores.
É esse o único curso das unidades de Mococa,
Garça e São José do Rio Preto, inauguradas
neste ano. É também o único curso em
andamento em Mauá, Jundiaí e Praia Grande, abertas
em 2002.
A idéia é que os cursos específicos
sejam propostos a partir do contato da unidade com a demanda
local. Mas unidades de Guaratinguetá e de Indaiatuba,
mesmo após dez anos de funcionamento, continuam sendo
faculdades de um curso só: automação
de escritórios e secretariado.
Greve
Neste ano, a greve de professores e alunos chamou atenção
para o cotidiano dos cerca de 12 mil estudantes da instituição,
administrada pelo Centro Paula Souza, entidade vinculada à
Unesp (Universidade Estadual Paulista) e subordinada à
Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento
Econômico e Turismo.
Com a paralisação, que atingiu 35% das unidades
e cerca de 65% dos docentes, as aulas neste semestre ainda
não começaram.
Na última quarta, na Fatec São Paulo, alunos
discutiam a greve. Alunas do curso de automação
de escritórios disseram ter feito uma vaquinha para
comprar um rádio para o laboratório de línguas;
no curso de mecânica a vaquinha foi para comprar cimento.
Na Fatec Zona Leste, das cinco estantes da biblioteca, só
uma está ocupada.
A reivindicação dos professores é outra:
pedem reposição salarial de 72,22%, de acordo
com os reajustes definidos pelo Cruesp (Conselho de Reitores
das Universidades Estaduais Paulistas), já que são
filiados à Unesp. Desde 96, o governo estadual não
segue a mesma política salarial.
FERNANDA MENA
SIMONE IWASSO
da Folha de S. Paulo
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