Passado
o impacto inicial das mudanças, o sistema de ciclos
adotado em Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte aos poucos
começa a ganhar a confiança de professores,
pais e alunos. Não há números para comprovar
a eficiência do método, mas a diferença
já é sentida no entusiasmo de professores e
alunos antes fadados a repetir de ano.
A maior resistência tem sido dos pais, que, educados
no sistema tradicional, não conseguem compreender os
ciclos.
Em Porto Alegre, o método começou a ser aplicado
há oito anos e, nos últimos três, foi
adotado em toda a rede municipal. Lá o aluno é
constantemente avaliado em um dossiê alimentado pelos
professores. Quando tem dificuldades, o aluno freqüenta
recuperação apenas da matéria em que
não está bem.
O resultado mais visível por enquanto é a queda
da evasão escolar, de 8% para 1,5%. “Agora vamos
iniciar um acompanhamento do desempenho dos alunos no segundo
grau”, diz a secretária municipal da Educação
de Porto Alegre, Maria de Fátima Baierle.
Sem recuperação
Na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Alcides
Cunha, uma turma formada exclusivamente por recém-chegados
de escolas com ciclos recebeu atenção especial
de professores e reforço no material didático,
conforme prevê o sistema. Resultado: acabou sendo a
que mais aprovou estudantes por média, sem necessidade
de recuperação, ao final de 2003.
Com dificuldades para aprender matemática, o estudante
Wagner Rodrigues Marques, de 16 anos, mudou de uma escola
tradicional para outra de ciclos. Está satisfeito com
a atenção especial que recebe. “É
melhor do que ter prova e reprovação. Já
recuperei matemática e consegui dominar o que eu não
conseguia antes”, diz. “Aqui os professores são
mais atentos”, completa a aluna Patrícia d a
Silva Dias, de 12 anos.
Progressão
Professores já observam a migração de
alunos reprovados em outras escolas para as salas de aula
da prefeitura. “Aqui eles entram nas turmas de progressão
e não se sentem excluídos”, diz Claudia
Bernadete Penz, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Aramy Silva.
Pai de um garoto de 6 anos, Paulo Sérgio Escobar,
de 31, estranha o sistema, mas enxerga vantagens. “Quem
não aprendeu os conteúdos não pode seguir
adiante, mas concordo com a recuperação só
da matéria mal aprendida”, diz.
Dificuldades
Adotado há quase uma década em Belo Horizonte,
o programa Escola Plural ajudou a reduzir a evasão
de 18,5% para 4,5%. Segundo a secretária municipal
de Educação, Maria do Pilar Lacerda Almeida
e Silva, nos últimos seis anos, os educadores da prefeitura
identificaram cerca de 300 alunos com sérias dificuldades
para aprender a ler e escrever. “É bem menos
do que o propagandeado pelos críticos (do sistema).
Esses meninos têm mais problemas de disciplina do que
de aprendizado.”
Em 2002, uma avaliação do Sistema Mineiro de
Avaliação da Escola Pública (Simave)
das competências em língua portuguesa, na área
de leitura, mostrou que apenas 30% dos estudantes da rede
municipal não tinham desempenho satisfatório.
Embora preocupante, o resultado é muito superior ao
verificado no País, em que pouco mais de 5% dos alunos
de 4. série estão em estágios adequados
ou avançados de aprendizado.
Multidisciplinar
O projeto mineiro tenta criar um ambiente multidisciplinar
e uma proximidade maior entre professores e alunos. As salas
de aula do primeiro ciclo podem ter, no máximo, 25
estudantes. No segundo e no terceiro, até 35. Há
aulas ministradas ao mesmo tempo por dois professores.
“Apesar de toda a resistência inicial, recebemos
muito mais elogios do que críticas”, afirma Marcus
Vinícius Fernandes, professor de Geografia e História
e vice-diretor da Escola Municipal Aurélio Pires. “A
proposta não é ‘independentemente do que
ocorrer, o aluno será aprovado’ e sim ‘tudo
será feito para ele aprender’”, reforça
a presidente do Conselho Municipal de Belo Horizonte, Analise
de Jesus da Silva.
Pais resistentes
Há quatro anos nas escolas municipais de Curitiba,
o sistema de ciclos já é abraçado pelos
professores, mas ainda encontra grande resistência entre
os pais. Lá também caiu o abandono escolar,
de 2,93% em 1997 para 0,65% em 2002, na rede municipal de
1.ª a 4.ª séries.
Os pais entendem que a falta de reprovação
desmotivou as crianças. “Quando estudei, a gente
se esforçava mais”, diz Edson Luiz Peniolo, pai
de Tamires, de 9 anos, e Tauane, de 7.
Pedagogo e professor há 13 anos, Antonio Ulisses Carvalho
acredita que a dificuldade de entendimento da proposta deve-se
à forma como foi introduzida em Curitiba, sem muita
preparação dos mestres. “Para compreender
o sistema, é preciso uma mudança de postura,
entender a escola como responsabilidade de todos e não
apenas de um”, afirma.
As informações são
da Agência Estado.
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