A proposta
do governo federal de criar vagas públicas em instituições
privadas (com ou sem fins lucrativos) em troca de isenção
de alguns impostos, por meio do Universidade para Todos, é
inconstitucional e deveria ser revista antes de o programa
ser lançado para não correr o risco de ser derrubada
na esfera judicial.
A opinião é do jurista Ives Gandra da Silva
Martins, professor emérito da Universidade Mackenzie,
que participou ontem de um seminário sobre reforma
universitária na UniFMU, em São Paulo, onde
é professor honoris causa. "Não há
renúncia daquilo que não se tem", afirmou
Martins, comentando uma decisão do STF (Supremo Tribunal
Federal) que já assegura isenções fiscais
às faculdades sem fins lucrativos.
No caso das filantrópicas, diz o jurista, o governo
não pode impor que 20% de sua receita seja convertida
exclusivamente em bolsas para alunos carentes porque a lei
das filantrópicas permite que outros gastos (em projetos
sociais, por exemplo) entrem no cálculo desses 20%.
Além disso, ele avalia que o governo não pode
obrigar as universidades privadas a reservar vagas para alunos
carentes ou negros. "Isso é facultativo. Qualquer
imposição fere o princípio da autonomia
universitária", diz.
De acordo com Jorge Almeida Guimarães, presidente
da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior), que representou o ministro
Tarso Genro (Educação) no seminário,
a proposta da isenção em troca de vaga ainda
pode ser revista e é apenas uma dentre outras que serão
discutidas no processo de reforma universitária.
Guimarães afirma serem fundamentais alternativas que
garantam mais vagas no ensino superior. O Plano Nacional de
Educação determina que, até 2010, 30%
dos jovens de 18 a 24 anos estejam na universidade. Hoje,
esse percentual está em torno de 11%.
Para Newton Lima Neto, ex-reitor da Universidade Federal
de São Carlos, garantir o acesso ao ensino superior,
fortalecer a universidade pública e melhorar a qualidade
do ensino básico devem ser prioridades no debate da
reforma universitária. Já o professor Eduardo
Marini alertou para a necessidade de um modelo de fiscalização
que puna as instituições de ensino de má
qualidade.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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