O ministro Nilmário Miranda
(Secretaria Especial dos Direitos Humanos) atribuiu ontem
o aumento do trabalho infantil em seis regiões metropolitanas
durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva ao ajuste
econômico feito neste ano, que provocou, segundo ele,
um crescimento temporário do desemprego.
"O crescimento [do trabalho infantil] é em razão
de dois fatores. O primeiro foi o ajuste que tivemos de fazer
neste ano e que provocou aumento do desemprego temporário.
Se não tivesse ajuste, não teríamos agora
equilíbrio e possibilidade de voltar a ter desenvolvimento
sustentável. Mas já passou este período",
disse.
E completou: "O segundo é que o Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil teve de ser controlado neste ano para
poder expandir nos três próximos".
Dados da Pesquisa Mensal de Emprego, divulgados anteontem,
mostram que houve um aumento, em setembro, de 50% no número
de crianças trabalhadoras na faixa etária de
10 a 14 anos em relação a janeiro. Se comparado
a setembro de 2002, o crescimento passa para 76%.
A pesquisa, feita pelo IBGE (Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) nas regiões
metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife,
Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte, detectou em setembro
132 mil crianças trabalhando. É o maior número
desde março de 2002.
Para Nilmário Miranda, a queda da renda levou os mais
pobres a introduzirem, precocemente, jovens no mercado. "Haverá
tanto mais trabalho infantil quanto menor for a renda dos
adultos."
Já o secretário de Inclusão Educacional
do Ministério da Educação, Osvaldo Russo,
disse que o aumento do trabalho infantil não pode ser
atribuído ao governo Lula. "Os programas sociais
do governo anterior, devido a sua fragmentação,
menor universo abrangido e renda transferida, não foram
capazes de diminuir o trabalho infantil, apesar do efeito
positivo na escolarização inicial."
Neste ano, o governo elevou a meta de superávit primário
(parcela da receita destinada a pagar juros da dívida)
de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,25% -aumento
de R$ 60 bilhões para R$ 68 bilhões, em números
aproximados.
Além disso, para conter a inflação, o
governo conteve consumo e investimentos por meio de uma política
de juros elevados, na qual as taxas do Banco Central chegaram
a 26,5%. A consequência foi elevação do
desemprego.
Por outro lado, o Peti (Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil) vem mantendo desde janeiro gasto mensal
médio de R$ 37,2 milhões, beneficiando cerca
de 810 mil crianças e jovens.
As informações são do jornal Folha de
S.Paulo.
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