A verdadeira
ameaça para o futuro da democracia na América
Latina, ao contrário do que muitos acreditam, não
está na macroeconomia, mas na falta de investimentos
na educação. A tese é defendida com números
pela socióloga chilena Marta Lagos, diretora-executiva
do Latinobarómetro, instituto que há oito anos
realiza pesquisas sobre a democracia nos 17 países
da região.
Pelos dados do Latinobarómetro, a democracia só
tem apoio da maioria entre os cidadãos com nível
educacional superior (64%) e médio (57%). O governo
autoritário tem o apoio de 14% no nível superior
e 19% no médio. A opção "tanto faz"
foi escolhida por 16% no superior e 20% no médio.
Baixo e mínimo
Já nos níveis baixo (primário) e mínimo
(primário incompleto ou analfabetos), a maioria é
crítica ou indiferente. Entre as pessoas com baixo
nível educacional, apenas 48% afirmaram preferir a
democracia, 18% defenderam um governo autoritário e
27% disseram que tanto faz.
E o quadro ainda é mais preocupante no nível
mínimo, onde apenas 40% defenderam a democracia. Para
23% seria melhor um governo autoritário, enquanto 31%
mostraram indiferença.
Sem avançar
Segundo Marta, 65% em média dos latino-americanos cujos
pais só cursaram o primário não conseguiram
ultrapassar o mesmo estágio. "Significa que seis
em cada 10 pessoas do continente só têm a educação
básica e seus filhos também não avançarão
além dessa etapa."
Em 10 dos 17 países, incluindo o Brasil, apenas uma
entre 10 pessoas ultrapassou a formação dos
pais. E mesmo os melhores colocados não apresentam
dados animadores. A líder Argentina tem 19%, seguida
por Venezuela (16%), Chile e Panamá (ambos com 15%).
SILVIO BRESSAN
da Agência Estado
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