BRASÍLIA.
A Polícia Federal enviou ontem um ofício a todas
as suas superintendências proibindo o pagamento de indenização
a quem entregar armas de fabricação artesanal
ao programa de desarmamento do governo federal. O chefe do
Serviço Nacional de Armas, delegado Fernando Segóvia,
informou que desde o início do programa a Polícia
Federal tem recebido armas fabricadas em fundo de quintal,
com baixo potencial ofensivo. Há denúncias de
que algumas dessas armas teriam sido fabricadas por pessoas
interessadas em receber a indenização estipulada
no Estatuto do Desarmamento. Ontem, Segóvia esclareceu
que o Estatuto só prevê pagamento mediante a
entrega de armas de fogo.
"A gente foi até certo ponto surpreendido, porque
as pessoas estavam confundindo e entregando essas armas desde
o início. Após uma análise jurídica,
verificamos que as armas artesanais não são
indenizáveis. Mas o cidadão que queira se desfazer
delas, pode entregar, sem problema."
Cano de PVC
Segóvia disse que muitas pessoas que tentaram receber
indenização em troca de armas caseiras não
agiram por má-fé, mas por falta de informação.
O delegado disse que muitas dessas armas são fabricadas
com cano de PVC e dispositivo simples de disparo de pólvora,
e com potencial de ferimento comparável às espingardas
de chumbo. Ele afirmou que, de acordo com a Lei 10.826, esse
tipo de equipamento é considerado de caçador
e utilizado para abater aves e animais de pequeno porte para
subsistência.
"Essas armas não foram previstas no Estatuto
do Desarmamento. Além disso, para a Polícia
Federal, elas não têm potencial criminoso."
Até ontem pela manhã, a PF contabilizava 13.957
armas entregues ao programa. No dia anterior, o número
era 12.099. Segundo a Polícia Federal, a média
de armas entregues é de duas mil por dia.
Edeilson José de Freitas, funcionário de um
frigorífico, em Cascavel, no Paraná, entregou
de uma só vez 34 armas na delegacia da Polícia
Federal em Foz do Iguaçu, sendo cinco espingardas,
quatro carabinas e revólveres calibre 38.
A indenização paga varia de R$ 100 a R$ 300.
A meta inicial de recolhimento é de 80 mil armas até
o fim do ano, número previsto de indenizações
com o crédito especial de R$ 10 milhões aprovado
pelo Congresso. Mas a PF acredita que a meta será atingida
antes.
Ontem, foi realizada uma reunião no Ministério
da Justiça com representantes de diversos segmentos
da sociedade civil para discutir a implementação
da campanha publicitária do governo federal em prol
do desarmamento. A campanha será iniciada no dia 5
de agosto com o nome de Plano Nacional de Mobilização.
A Polícia Federal já iniciou um cadastro com
as associações interessadas em participar.
Representante da Ordem dos Advogados do Brasil na reunião,
Joelson Dias também manifestou preocupação
sobre os locais em que as armas estão sendo recebidas
e guardadas. O representante do governo federal, Marcelo Behar,
assessor do ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, informou que estão sendo tomadas as providências
para garantir a segurança de todos, já que qualquer
ocorrência negativa poderia levar ao descrédito
a campanha.
O Comando do Exército decidiu ontem que vai aderir
à campanha de recebimento de armas em todo o país.
A participação dos militares deverá ampliar
consideravelmente a rede de postos de recolhimento de armas.
O Exército tem unidades em todo país. A idéia
dos militares é ajudar principalmente na coleta de
armas em regiões isoladas. A adesão do Exército
à campanha deve ser anunciada hoje.
As informações são
do jornal O Globo.
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