Em dezembro, pelo terceiro mês
consecutivo, o nível de desemprego recuou na região
metropolitana de São Paulo. De 19,9%, em novembro,
passou para 19,1% da PEA (População Economicamente
Ativa), segundo pesquisa da Fundação Seade e
do Dieese.
As instituições ressaltam que a diminuição
na taxa deve-se a um "movimento típico para o
período" (em referência ao aquecimento sazonal
da economia no final de ano). O resultado de dezembro, no
entanto, carrega alguns indicadores relevantes.
Primeiro o de que foram registradas 101 mil novas ocupações,
o maior número absoluto de postos de trabalho gerados
em um único período em toda a série da
pesquisa, iniciada em 1985. Como houve a incorporação,
no mês, de 27 mil pessoas à PEA -ou seja, aptas
a trabalhar e/ou à procura de emprego-, tem-se como
saldo um decréscimo de 74 mil pessoas no total de desempregados.
O segundo indicador a ser considerado foi um crescimento
de 1,3% no nível de ocupação, o melhor
para um dezembro na história -igualando-se à
taxa observada em dezembro de 1986.
Esse aumento da ocupação teve como determinantes
a abertura de 52 mil postos na indústria -que, a despeito
disso, encerrou 2003 com saldo negativo, interrompendo uma
série de quatro anos de expansão no número
de ocupados. Aos postos abertos pela indústria no mês,
somaram-se mais 40 mil vagas no comércio e 30 mil no
setor de serviços. Mas no agregado de outros setores
fecharam-se 21 mil vagas.
"Os ventos estão mudando? Não. É
muito cedo para afirmar. Depende de continuidade de política
monetária. Muitos postos tendem a desaparecer porque
eram sazonais e somente ao final de janeiro será possível
avaliar", sustenta Paula Montagner, gerente de análises
da Fundação Seade.
A economista lembra que, em toda a série histórica,
somente uma vez se registrou aumento de emprego na indústria
e no setor de comércio em um mês de janeiro:
em 1995, pós-plano Real.
Montagner argumenta que os dados de dezembro revelam um aspecto
que classificou como "alentador", quando se observa
a forma de inserção no mercado: o aumento em
32 mil pessoas do contingente de trabalhadores com carteira
assinada no setor privado, ao mesmo tempo em que o contingente
daqueles sem carteira permaneceu relativamente estável
(-2.000 postos). Ainda no mesmo mês, o número
de empregados no setor público subiu 16 mil.
"Foram gerados postos de trabalho e postos de qualidade,
como o do setor público e mesmo nas empresas. Estas,
quando contratam com carteira assinada, é porque têm
maiores expectativas em relação ao futuro",
afirma.
Em dezembro também se verificou ampliação
(em 30 mil) no número de autônomos, que tendem
a ser postos de maior precariedade e com rendimentos médios
menores -o rendimento médio de trabalhador assalariado,
em novembro (a pesquisa de rendimentos guarda um mês
de defasagem) era de R$ 984; o dos autônomos não
superava os R$ 714.
Quando comparado com dezembro de 2002, a taxa de desemprego
aumentou 3,2% -passando de 18,5% em 2002 para os atuais 19,1%.
Em dezembro de 2002, o número de desempregados na
região chegava a 1,798 milhão. No mês
passado, eram 1,892 milhão os desempregados.
JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S. Paulo
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