BRASÍLIA. O aumento do desemprego
e a elevação dos gastos devido ao reajuste de
20% do salário-mínimo fizeram o déficit
da Previdência Social dar um salto de 55% em 2003, na
comparação com o ano anterior, divulgou ontem
o Tesouro Nacional. O INSS, que administra as aposentadorias
do setor privado, teve um déficit de R$ 26,4 bilhões,
contra R$ 17 bilhões em 2002. Apesar disso, o governo
Luiz Inácio Lula da Silva economizou no primeiro ano
de mandato R$ 39,647 bilhões, o que representa um aumento
de 25,1% em relação ao superávit primário
(receitas menos despesas, exceto gastos com juros da dívida
pública) do ano anterior.
O resultado das contas públicas apresentado ontem
reflete os esforços fiscais do governo federal, do
Banco Central e da Previdência e integra a meta de R$
65 bilhões (4,25% do PIB) do setor público (que
inclui ainda estados, municípios e empresas estatais)
acertada com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
De janeiro a novembro, o superávit acordado com o
Fundo atingiu R$ 70,294 bilhões (4,94% do PIB), valor
que deve cair com a divulgação, amanhã,
dos números de dezembro pelo Banco Central (BC). O
governo utiliza a economia para o pagamento de juros —
que só na União chegou a R$ 97,52 bilhões
de janeiro a novembro de 2003, ou 84% a mais do que no mesmo
período de 2002.
União deve compensar esforço menor
de estatais
Segundo o Ministério da Previdência,
o aperto no mercado de trabalho fez cair em 2,6% a arrecadação
do INSS no ano passado, o que, com o aumento do mínimo
e o reajuste de 19,71% nos valores das aposentadorias maiores,
deteriorou as contas do setor. Foram pagos no ano passado
800 mil benefícios a mais do que em 2002.
A previsão era que o déficit do INSS chegasse
a R$ 27,2 bilhões. Mas a arrecadação
subiu R$ 600 milhões nos últimos meses e houve
o pagamento de R$ 200 milhões em precatórios
(títulos públicos emitidos para quitar dívidas
judiciais). A receita previdenciária foi de R$ 80,7
bilhões. O crescimento de 13,5%, porém, foi
insuficiente para equilibrar o aumento dos benefícios
totais, que subiram para R$ 107,1 bilhões.
O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, disse que a
tendência é de um aumento menor do déficit
nos próximos anos devido à retomada do crescimento
a partir de 2004.
Sobre os R$ 39 bilhões economizados em 2003, Levy
disse que houve uma sobra de R$ 1,664 bilhão além
da meta fixada no Orçamento da União. Segundo
ele, essa folga poderá compensar o desempenho das empresas
estatais, que tinham uma meta de R$ 10,8 bilhões, mas
economizaram só R$ 5,934 bilhões até
novembro.
"Em dezembro, tivemos déficit de R$ 5,693 bilhões,
esperado devido ao décimo-terceiro dos servidores e
aposentados. Um dado importante é que no fim do ano
os ministérios haviam gasto entre 95% e 99% do previsto",
disse Levy.
Ele ressaltou ainda que o superávit primário
do governo em 2003 foi maior apesar do aumento de 10,5% das
despesas totais, principalmente com aposentadorias. A receita
líquida cresceu 12% e compensou os gastos maiores.
Folha de pagamento e encargos
Depois das aposentadorias — sem contar o pagamento
dos juros — os maiores gastos do governo estão
com folha de pagamento e encargos, que atingiram R$ 78,068
bilhões, incluindo os servidores inativos.
"Houve moderação nas despesas com folha
de pagamento, embora os benefícios previdenciários
tenham crescido", afirmou o secretário.
Levy lembrou que as despesas de custeio e capital para o
funcionamento do governo subiram pouco, de R$ 71,9 bilhões
em 2002 para R$ 72,08 bilhões. Segundo ele, a vinculação
obrigatória de receitas, como em saúde e educação,
impede maior corte de gastos.
Uma das fontes de despesa em 2003 foram os chamados restos
a pagar deixados pelo governo anterior. São gastos
previstos para o ano anterior que não puderam ser executados
— foram R$ 9 bilhões.
As informações são
do jornal O Globo.
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