GENEBRA (Suíça). No
maior evento já organizado pelo governo brasileiro
no exterior para atrair investimentos, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva desafiou empresários brasileiros e estrangeiros
a colocarem dinheiro no país, para que o Brasil “não
fique parado” e “vá à luta”.
Diante de mais de 200 executivos de corporações
de vários países — a maioria européia,
além de chinesas e japonesas — Lula assegurou
que o governo está fazendo sua parte, disse que o país
mudou e prometeu regras claras e segurança para os
investimentos.
Os empresários estrangeiros, que apesar da nevasca
em Genebra compareceram em massa ao evento, patrocinado pela
Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento
(Unctad), ouviram promessas de rigor fiscal e monetário
do presidente e dos ministros da área econômica.
Saíram do encontro rasgando elogios. Mas na sessão
de perguntas e em encontros individuais com ministros, foram
pragmáticos: cobraram detalhes sobre impostos e garantias.
‘Elite do país comprometeu saúde
fiscal do Estado’
Saindo de uma temperatura de 30 graus Celsius na
Índia, onde esteve em visita oficial de quatro dias,
para o gelo da Suíça — zero grau e muita
neve — Lula disse aos empresários:
"O governo brasileiro não apenas está
fazendo sua parte, como nós estamos desafiando o empresariado
brasileiro e os estrangeiros que têm investimentos no
Brasil para que a gente não fique parado, para que
a gente vá à luta".
Lula afirmou que, com a globalização, “o
planeta ficou pequeno e ninguém vai ficar fazendo concessão
gratuitamente”. Não vão ser os índices
de pobreza do Brasil, segundo o presidente, que vão
atrair investimentos.
"Estou convencido de que o fato de termos criança
de rua e de sermos um país com problemas sociais não
é motivo para sensibilizar nenhum investidor a colocar
nem um centavo no Brasil. O que vai possibilitar e motivar
investimentos é o que nós possamos oferecer
a vocês de infra-estrutura, de mercado e de mão-de-obra
altamente qualificada . Nós temos um grande mercado
interno e temos a possibilidade de abrir um mundo comercial
para quem produzir no nosso país", afirmou o presidente.
Lula acusou a elite brasileira pela maior parte dos problemas
que o Brasil tem hoje:
"Foi irresponsável. Comprometeu a saúde
fiscal do Estado. Agravou de forma insuportável as
desigualdades sociais".
Presidente defende ‘nova geografia comercial’
No momento em que os asiáticos são
as vedetes do mercado internacional — só a China
atraiu no ano passado US$ 57 bilhões, mais do que os
US$ 42 bilhões de toda a América Latina —
Lula desembarcou no encontro com empresários, na sede
da ONU em Genebra, com toda sua equipe econômica. Os
ministros carregavam pastas cheias de gráficos e números.
Havia tradução simultânea para cinco línguas:
inglês, francês, alemão, espanhol e até
chinês. O presidente falou sobre a estratégia
do Brasil de buscar novos mercados.
"Foi por isso que, no primeiro ano do meu governo, em
vez de ficar sentado na minha cadeira no Brasil lamentando
o que herdei, e lamentando a situação econômica,
resolvemos viajar o mundo para abrir novos espaços,
para que pudéssemos fechar novos negócios. É
isso que chamamos de nova geografia comercial do mundo",
afirmou Lula.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, falou logo depois
do presidente. Palocci lembrou que em 2002 a economia brasileira
“passou por uma das mais graves crises de sua história
recente”, contou como o governo conseguiu equilibrar
as contas e garantiu que o país vai crescer entre 3,5%
e 4% este ano.
Palocci também previu uma expansão mais vigorosa
do mercado de trabalho em 2004, com a abertura de novos postos
de trabalho, citando sinais de recuperação na
indústria. Segundo o ministro, as reformas trabalhista,
tributária e previdenciária são fatores
imprescindíveis para o crescimento a longo prazo.
Respondendo a um jornalista, com relação aos
planos do governo para reforma trabalhista, lembrando que
o crescimento de China e Índia se deve em parte à
existência de mão-de-obra barata, o presidente
Lula disse:
"Temos uma legislação (trabalhista) que
data da década de 40 e precisa ser atualizada. Mas
desde que isso não signifique tirar o direito dos trabalhadores.
Nunca aceitei que mão-de-obra no Brasil fosse impeditivo
para sermos mais competitivos. Se formos comparar com a mão-de-obra
da Alemanha, o que pagamos é um salário insignificante".
Mantega: ‘Governo não quer crescimento
fortuito’
O ministro do Planejamento, Guido Mantega, mostrou,
com a ajuda de gráficos, todas as possibilidades de
investimento dentro do programa de Parceria Público-Privada
(PPP), e foi direto ao ponto:
"O governo brasileiro não está interessado
num crescimento fortuito", garantiu Mantega, dizendo
que para isso é preciso reduzir a vulnerabilidade externa
do Brasil e elevar o nível de investimentos.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou que o governo vai
eliminar até 2006 impostos sobre bens de capital. Furlan
falou sobre a nova política industrial e disse que
o governo espera atrair US$ 20 bilhões nas áreas
de energia, indústria e serviços:
"Fizemos uma pesquisa sobre o clima para investimentos
no Brasil, que mostra que, relativamente a um ano atrás,
aumentou cerca de 60% a intenção de investimentos
estrangeiros e brasileiros".
DEBORAH BERLINCK
Enviada especial do jornal O Globo
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