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economia
30/01/2004
Lula desafia empresários a investirem no país

GENEBRA (Suíça). No maior evento já organizado pelo governo brasileiro no exterior para atrair investimentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou empresários brasileiros e estrangeiros a colocarem dinheiro no país, para que o Brasil “não fique parado” e “vá à luta”. Diante de mais de 200 executivos de corporações de vários países — a maioria européia, além de chinesas e japonesas — Lula assegurou que o governo está fazendo sua parte, disse que o país mudou e prometeu regras claras e segurança para os investimentos.

Os empresários estrangeiros, que apesar da nevasca em Genebra compareceram em massa ao evento, patrocinado pela Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), ouviram promessas de rigor fiscal e monetário do presidente e dos ministros da área econômica. Saíram do encontro rasgando elogios. Mas na sessão de perguntas e em encontros individuais com ministros, foram pragmáticos: cobraram detalhes sobre impostos e garantias.

‘Elite do país comprometeu saúde fiscal do Estado’
Saindo de uma temperatura de 30 graus Celsius na Índia, onde esteve em visita oficial de quatro dias, para o gelo da Suíça — zero grau e muita neve — Lula disse aos empresários:

"O governo brasileiro não apenas está fazendo sua parte, como nós estamos desafiando o empresariado brasileiro e os estrangeiros que têm investimentos no Brasil para que a gente não fique parado, para que a gente vá à luta".

Lula afirmou que, com a globalização, “o planeta ficou pequeno e ninguém vai ficar fazendo concessão gratuitamente”. Não vão ser os índices de pobreza do Brasil, segundo o presidente, que vão atrair investimentos.

"Estou convencido de que o fato de termos criança de rua e de sermos um país com problemas sociais não é motivo para sensibilizar nenhum investidor a colocar nem um centavo no Brasil. O que vai possibilitar e motivar investimentos é o que nós possamos oferecer a vocês de infra-estrutura, de mercado e de mão-de-obra altamente qualificada . Nós temos um grande mercado interno e temos a possibilidade de abrir um mundo comercial para quem produzir no nosso país", afirmou o presidente.

Lula acusou a elite brasileira pela maior parte dos problemas que o Brasil tem hoje:

"Foi irresponsável. Comprometeu a saúde fiscal do Estado. Agravou de forma insuportável as desigualdades sociais".

Presidente defende ‘nova geografia comercial’
No momento em que os asiáticos são as vedetes do mercado internacional — só a China atraiu no ano passado US$ 57 bilhões, mais do que os US$ 42 bilhões de toda a América Latina — Lula desembarcou no encontro com empresários, na sede da ONU em Genebra, com toda sua equipe econômica. Os ministros carregavam pastas cheias de gráficos e números. Havia tradução simultânea para cinco línguas: inglês, francês, alemão, espanhol e até chinês. O presidente falou sobre a estratégia do Brasil de buscar novos mercados.

"Foi por isso que, no primeiro ano do meu governo, em vez de ficar sentado na minha cadeira no Brasil lamentando o que herdei, e lamentando a situação econômica, resolvemos viajar o mundo para abrir novos espaços, para que pudéssemos fechar novos negócios. É isso que chamamos de nova geografia comercial do mundo", afirmou Lula.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, falou logo depois do presidente. Palocci lembrou que em 2002 a economia brasileira “passou por uma das mais graves crises de sua história recente”, contou como o governo conseguiu equilibrar as contas e garantiu que o país vai crescer entre 3,5% e 4% este ano.

Palocci também previu uma expansão mais vigorosa do mercado de trabalho em 2004, com a abertura de novos postos de trabalho, citando sinais de recuperação na indústria. Segundo o ministro, as reformas trabalhista, tributária e previdenciária são fatores imprescindíveis para o crescimento a longo prazo.

Respondendo a um jornalista, com relação aos planos do governo para reforma trabalhista, lembrando que o crescimento de China e Índia se deve em parte à existência de mão-de-obra barata, o presidente Lula disse:

"Temos uma legislação (trabalhista) que data da década de 40 e precisa ser atualizada. Mas desde que isso não signifique tirar o direito dos trabalhadores. Nunca aceitei que mão-de-obra no Brasil fosse impeditivo para sermos mais competitivos. Se formos comparar com a mão-de-obra da Alemanha, o que pagamos é um salário insignificante".

Mantega: ‘Governo não quer crescimento fortuito’
O ministro do Planejamento, Guido Mantega, mostrou, com a ajuda de gráficos, todas as possibilidades de investimento dentro do programa de Parceria Público-Privada (PPP), e foi direto ao ponto:

"O governo brasileiro não está interessado num crescimento fortuito", garantiu Mantega, dizendo que para isso é preciso reduzir a vulnerabilidade externa do Brasil e elevar o nível de investimentos.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou que o governo vai eliminar até 2006 impostos sobre bens de capital. Furlan falou sobre a nova política industrial e disse que o governo espera atrair US$ 20 bilhões nas áreas de energia, indústria e serviços:

"Fizemos uma pesquisa sobre o clima para investimentos no Brasil, que mostra que, relativamente a um ano atrás, aumentou cerca de 60% a intenção de investimentos estrangeiros e brasileiros".


DEBORAH BERLINCK
Enviada especial do jornal O Globo

   
 
 
 

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