O metrô da Cidade do México
lançou ontem uma operação de empréstimo
de livros, o que transforma as estações em bibliotecas
subterrâneas com o objetivo de reduzir a criminalidade
e instituir uma atmosfera amistosa para seus milhões
de passageiros.
A prefeitura quer distribuir 7 milhões de exemplares
nos próximos dois anos. Ela espera que as pessoas devolvam
os livros, embora não faça da devolução
uma exigência absoluta.
A primeira equipe de voluntários distribuiu 150 livros
em poucos minutos. "Basta oferecer para que os livros
sumam rapidamente de nossas mãos", disse Alejandro
Camarena, um dos encarregados.
Desses 150, haviam sido devolvidos 45 antes que começasse
o horário de maior movimento no final da tarde. A passageira
Marta Gaona conseguiu ler 16 páginas e pediu para ficar
com o livro até a hora do almoço. Ela planejava
devolvê-lo ao voltar para sua casa.
A idéia não é propriamente mexicana.
Ela nasceu de discussões entre Leoluca Orlando, ex-prefeito
da cidade italiana de Palermo, e a empresa de consultoria
de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York. Giuliani fez
estudo sobre a redução da criminalidade que
ameaça os 8,5 milhões de moradores da Cidade
do México.
"Estamos convencidos de que as pessoas que lêem
passam por mudanças positivas", disse Javier Gonzales
Garza, diretor da Companhia do Metrô.
A tese não chega a ser aceita por todos. "Poderemos
em breve ter o mesmo número de delinquentes, mas alguns
deles serão um pouco mais cultos", disse Omar
Raul Martinez, diretor de uma editora de livros e revistas.
A Cidade do México não é a primeira
a instituir programa de estímulo à leitura em
ambientes subterrâneos. Tóquio tem dezenas de
pequenas bibliotecas em suas estações de metrô.
Os japoneses acreditam que o empréstimo de livros acentue
entre os passageiros o espírito comunitário.
Batedores de carteira e ladrões são comuns
na vasta rede de trens metropolitanos da Cidade do México,
que transporta 4,7 milhões de passageiros por dia e
cobra pelo bilhete o equivalente a R$ 0,51.
O prefeito Andrés Manuel Lopez Obrador, um possível
candidato presidencial em 2006, talvez tenha propósitos
eleitorais ao permitir o empréstimo de livros no metrô,
frequentado por uma quantidade maior de pobres.
De qualquer modo, o projeto de empréstimos coincide
com o programa do presidente Vicente Fox de fazer com que
os mexicanos leiam mais, por meio de ampliação
de bibliotecas e subsídios maiores a livros escolares.
Embora o índice de alfabetização seja
superior a 90%, pouca gente lê, em parte porque a pobreza
impede a compra de livros. É por isso que o projeto
do metrô tem como objetivo criar 500 mil novos leitores.
Os livros não são comprados com dinheiro público.
O dinheiro vem de uma empresa privada que tem a concessão
dos espaços de propaganda nos trens e estações.
A prefeitura encomendou uma coletânea que traz trechos
em prosa e verso sobre a própria Cidade do México.
O primeiro texto é de autoria de Carlos Monsivais,
um dos mais proeminentes escritores mexicanos, que narra o
modo como, em 1985, um terremoto que atingiu seriamente a
cidade fez surgir uma rede de voluntários para socorrer
as vítimas.
Monsivais, um passageiro frequente das linhas de metrô,
aceitou o pagamento simbólico de R$ 850,00 pela cessão
de direitos autorais e diz acreditar que seu gesto terá
um retorno cultural positivo.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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