O Banco Central reduziu a sua projeção de crescimento da economia
neste ano pela quarta vez. A estimativa de expansão,
que em janeiro era de 2,8%, passou ontem para 0,3%. A previsão
anterior, divulgada pelo BC em setembro passado, era de 0,6%.
A nova redução da projeção é
resultado do fraco desempenho da economia no terceiro trimestre,
quando o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas
pelo país) cresceu somente 0,4% em relação
aos três meses anteriores. "Esse resultado frustrou,
em parte, as expectativas para o período", afirma
o BC.
A avaliação consta do Relatório de Inflação,
documento contendo projeções para a economia
brasileira que é produzido pelo BC a cada três
meses.
A estagnação da economia só não
será mais forte por causa das exportações,
que, de acordo com o BC, devem fechar o ano com um aumento
de 16,5% em relação aos números de 2002,
contribuindo para o aquecimento do nível de atividade.
"A demanda interna deverá registrar significativa
retração [em 2003]", diz o documento do
BC.
Em junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia
prometido para este ano o que chamou de "espetáculo
do crescimento". Ao anunciar projeções
pouco animadoras para o desempenho da economia, o diretor
de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua,
evitou fazer comentários diretos sobre a promessa de
Lula. "É o crescimento. Se é um espetáculo
ou não, cada um é que vai definir", disse
Bevilaqua.
Para que a projeção de 0,3% se concretize,
é preciso que a economia cresça 2% no último
trimestre deste ano, comparando-se com igual período
de 2002.
Concretizada a estimativa do BC, o crescimento deste ano não
será suficiente para acompanhar o aumento da população
do país, que deve ser de cerca de 2%.
Será também o menor índice de expansão
desde 1998, no auge do reflexo das crises asiática
e russa, quando a economia brasileira cresceu apenas 0,13%.
Para 2004, o BC prevê que o crescimento econômico
chegue a 3,5%. Essas projeções supõem
que a cotação do dólar se estabilize
em R$ 2,94 e que os juros básicos da economia se mantenham
em 16,5% ao ano.
Já a inflação, medida pelo IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo), deve ficar em 9,1%
em 2003. Isso significa que, pelo terceiro ano consecutivo,
a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional)
não será atingida. Neste ano, o objetivo era
manter a alta dos preços em 4%, admitindo-se um desvio
de até 2,5 pontos percentuais.
Desde o início do ano, porém, o BC dizia que
não seria possível atingir essa meta, já
que a crise enfrentada pelo país a partir de 2002 provocou
um forte aumento dos preços. Assim, passou a trabalhar
com uma meta de 8,5%.
O chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas do BC, Marcelo
Kfoury, disse que "houve um resultado ruim do PIB"
neste ano, mas que os números seriam ainda piores se
o BC tivesse tentado manter a inflação nos 4%
previstos pela meta anterior. Isso teria provocado, segundo
Kfoury, elevações ainda mais fortes na taxa
Selic, que, no primeiro semestre, chegou a 26,5% ao ano.
Um dos riscos para a concretização das previsões
de melhora em 2004, segundo o BC, é a possibilidade
de uma elevação dos juros norte-americanos (hoje
em 1% ao ano). Isso poderia fazer com que investidores tirassem
seu dinheiro de países emergentes para aplicá-lo
nos EUA.
Assim, seria pressionada a taxa de câmbio no Brasil.
Com o real desvalorizado, a inflação tenderia
a subir. Para conter a alta dos preços, o BC poderia
ser levado a elevar os juros, prejudicando a retomada do crescimento
econômico. O BC diz, porém, que é "baixa
a probabilidade" de que isso aconteça no curto
prazo.
As informações são da Folha de S. Paulo.
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