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Vanessa Sayuri Nakasato
Mais de três toneladas de alimentos
em perfeitas condições de consumo são
jogados no lixo, semanalmente, na capital paulista. Os dados,
estimados pela Secretaria Municipal de Abastecimento, mostram
que essa quantidade seria suficiente para proporcionar três
refeições diárias a 3.125 pessoas durante
sete dias.
Para alterar esse quadro, a Prefeitura
de São Paulo criou, no início de 2002, o programa
Desperdício Zero. O objetivo é arrecadar doações
de alimentos com qualidade nutritiva e sanitária que,
por algum motivo, não puderam ser comercializados.
O Desperdício Zero está inserido no Banco de
Alimentos, um programa da Secretaria Municipal de Abastecimento
que angaria alimentos para distribuí-los à entidades
carentes.
Segundo o coordenador do Banco de
Alimentos, Emiliano Milanez, o desperdício é
visível e absurdo. Ele usa como exemplo a quantidade
de frutas, verduras e legumes jogados fora pelo Mercado Municipal.
“Durante o mês de julho, recolhemos tudo o que
iria para o lixo: 870,8 quilos de alimentos. Nossas nutricionistas
e técnicas em alimentação fizeram uma
triagem e só não aproveitaram 23,3 quilos”,
disse.
O coordenador conta que, este ano,
estão sendo arrecadados, em média, 37 toneladas
de alimentos por mês. Praticamente o dobro de 2002.
Mesmo assim, ele afirma que essa quantidade não é
o bastante para abastecer todas as entidades cadastradas no
programa.
“A comida aumentou, mas o número
de entidades também”, ressaltou Milanez. Conforme
ele, até fevereiro deste ano havia 72 entidades cadastradas.
Hoje, há 550 e mais 1.340 na fila de espera. “O
pior é que, embora haja uma média, as doações
oscilam muito. Em julho, por exemplo, recebemos 68.457 toneladas
de alimentos. No mês seguinte, as doações
caíram pela metade”, lamentou.
Todas as entidades que recebem o kit
de alimentos passam por uma avaliação. O Desperdício
Zero analisa desde a documentação até
o trabalho desenvolvido pelos locais. Milanez explica que
o intuito é verificar a seriedade da instituição
para ter a certeza de que a comida não ficará
‘jogada em um canto qualquer’. “Por incrível
que pareça, há desperdício dentro das
próprias entidades”, relatou.
As entidades cadastradas passam, obrigatoriamente,
por um curso para aprender a utilizar todo o alimento recebido.
Dentre as aulas, são ensinados questões básicas
sobre nutrição e higiene alimentar.
O programa tem beneficiado 307 mil
pessoas, atualmente. No entanto, há 580 mil domicílios
com pais de família desempregados em São Paulo
e 440 mil pessoas consideradas super pobres, ou seja, que
não têm, ao menos, uma refeição
para comer.
A meta do Desperdício Zero
é atingir todos esses cidadãos e poder fornecê-los
três refeições diárias. Para isso,
serão necessários arrecadar 330 toneladas por
dia, ou 9.900 toneladas de alimentos por mês.
Os programas do Banco de Alimentos
contam com o apoio de algumas organizações não-governamentais,
como Tem Yad, Prato Cheio e Israelita Beneficente.
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