Como
São José dos Campos montou um ambicioso plano
de inovação econômica e educacional
É uma das mais férteis experiências brasileiras
para mostrar como uma cidade investe na produção
do conhecimento e produz emprego. Com 600 mil habitantes,
São José dos Campos, no interior de São
Paulo, delimitou uma área de 3 milhões de metros
quadrados (dois parques Ibirapuera) para receber centros de
pesquisa, universidades e empresas, cuja missão é
gerar alta tecnologia. O que se monta, nessa experiência,
não é só um plano de inovação
econômica, mas um arranjo educacional, com um elo que
vai do aluno de ensino fundamental até aos cientistas
pós-doutorados, passando pelos estudantes das escolas
técnicas.
A história começa, em 2004, com a decisão
da prefeitura de comprar uma fábrica desativada de
38 mil metros quadrados, reservando as terras do entorno para
o parque tecnológico. O objetivo: aprofundar a vocação
industrial de São José dos Campos, especialmente
as atividades aeroespaciais.
Acoplaram-se, então, peças dos governos municipal,
estadual e federal. A Secretaria de Ciência e Tecnologia
do Estado de São Paulo bancou as primeiras pesquisas
e, com uma faculdade de tecnologia, a formação
de mão-de-obra qualificada. Entraram instituições
de prestígio internacional como a Universidade Federal
de São Paulo, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas),
que está instalado na USP, a Embraer e o ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica).
O projeto não se restringe à pesquisa e ao
desenvolvimento de empresas associadas à atividade
aeroespacial. Já está funcionando ali um centro
de biotecnologia da Universidade Federal de São Paulo,
interessada em se aproximar de núcleos de ciências
exatas. Preparam-se alianças com as indústrias
da região, onde existem General Motors, Kodak, Petrobras,
Ericsson, Monsanto, LG Phillips, Johnson&Johnson, entre
muitas outras.
O que se imagina é que, além de manter a competitividade
local, mais empresas seriam atraídas pelo parque tecnológico,
a exemplo do que aconteceu quando, há mais de 50 anos,
lançou-se em São José dos Campos um centro
de pesquisas aeroespaciais, do qual resultou o ITA para formar
engenheiros, que viabilizaram a Embraer - e, assim, criou-se
toda uma cadeia produtiva. Como vivemos numa era de muita
competição em escala global, todas essas conquistas
tendem a envelhecer rapidamente. Daí o projeto do parque
tecnológico.
Tornou-se, entretanto, importante olhar para baixo -e, aí,
o arranjo educacional torna-se ainda mais complexo. "A
educação pública precisa melhorar para
acompanhar a vocação local", afirma o prefeito
de São José dos Campos, Eduardo Cury, formado
em engenharia industrial.
Num país em que muitas prefeituras se recusam até
mesmo a assumir alunos da quinta à oitava série,
o projeto de São José dos Campos é ampliar
o ensino técnico em parceria com o governo estadual.
Modelo não falta: a Embraer criou na cidade uma escola
pública de ensino médio, na qual vai desenvolver
o conceito de pré-engenharia, preparando a cabeça
dos alunos para noções mais avançadas
de engenharia.
Na semana passada, o prefeito discutia um plano para despertar
o interesse das crianças e adolescentes pelas ciências,
muitas vezes odiadas pelos alunos. O que se pretende é
compartilhar, nas escolas, o que se faz nas empresas, com
permanentes visitas monitoradas. Está previsto para
ser lançado, em 2007, um concurso para todos os alunos
com a seguinte pergunta: por que um avião voa? Fariam,
então, da Embraer uma espécie de laboratório
escolar. A cada ano, novos temas iriam se juntando até
que todo o currículo de ciências se mesclasse
aos saberes locais. Quando estudassem energia, a refinaria
da Petrobras se prestaria como sala de aula.
Se vai dar certo, temos que esperar para ver. Mas é
um arranjo que ensina, como vemos no mundo, não como
apenas uma cidade mas um país pode voar.
PS - Depois de sua meteórica passagem pela prefeitura,
José Serra tem condição de deixar uma
marca histórica na cidade. Basta tirar do papel o plano,
já aprovado, de construção de um parque
tecnológico em torno da USP. O projeto foi pensado
para ocupar a imensa e poluída área da Ceagesp,
que, com seus lixos e congestionamento de caminhões,
ajudou a deteriorar toda uma região nas duas margens
dos rios Pinheiros e Tietê. O foco desse parque seria
o desenvolvimento de tecnologia para a área de serviços
-finanças, moda, design, telecomunicações,
saúde-, que são a vocação paulistana.
Cidadãos blindados
Parque
Tecnológico de São José dos Campos
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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