O rapaz,
que gosta de estudar, trocou uma escola onde era hostilizado
por outra que incentivou seu talento
A vida tornou-se insuportável para Jonas Tadeu
dos Santos, de 15 anos, na escola pública em que estudava
na periferia de São Paulo. Virou vítima de agressões
cotidianas de vários colegas porque sentava na frente
e gostava de estudar. "Não conseguia mais me concentrar."
Foi aconselhado por professores a buscar outro colégio.
O que era um problema tornou-se, hoje, uma solução
-e não só para ele. Jonas leu numa revista a
lista das melhores escolas da cidade de São Paulo.
"Minha família jamais teria dinheiro para pagar
as mensalidades." Fez uma aposta: mandou uma carta à
direção dos 50 colégios com melhor posição
da lista. "O pior que poderia acontecer era um não."
Mas a idéia de voltar para sua escola lhe parecia um
pesadelo.
Uma carta voltou com a resposta positiva. Jonas começou
a freqüentar o Colégio Augusto Laranja. Não
se incomodou com a maratona diária, na qual é
obrigado a pegar várias conduções e andar
a pé. Encontrou mais uma solução em um
problema. Jonas viu, por várias vezes, as dificuldades
que os portadores de deficiência auditiva tinham para
se comunicar no metrô e nos pontos de ônibus.
"Muitos ficavam desesperados."
Como em sua nova escola havia um programa que ensinava o estudante
a simular uma atividade parlamentar, com direito a uma apresentação
na Câmara Municipal, Jonas preparou um projeto de lei
determinando que, em lugares muito movimentados, como o metrô,
funcionários fossem capacitados na Linguagem Brasileira
de Sinais (Libras). "Isso ia ajudar muita gente. E não
sairia caro."
A simulação educativa tomou rumos inesperados.
No dia de sua apresentação na Câmara,
Jonas não sabia, mas estava sendo observado pela vereadora
Mara Gabrilli, defensora dos direitos dos portadores de deficiência.
"Adorei a idéia", diz ela.
Pediu à sua assessoria para usar a idéia de
Jonas e fazer um projeto para ser votado no próximo
ano -o prefeito Gilberto Kassab informa que a iniciativa tem
sua simpatia e vai sancioná-la.
PS: Escolhi Jonas para ser minha última coluna do
ano porque revela o que podemos fazer numa cidade quando o
talento é incentivado. Daí se vê o que
perdemos todos os dias.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Cotidiano.
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