Se a cidade
de São Paulo fosse civilizada, estaríamos agora
perplexos, em clima de escândalo, desses de deixar desorientadas
as autoridades - mas nada disso está, nem remotamente,
acontecendo.
Foi divulgado o ranking nacional dos testes de conhecimento
em matemática e língua portuguesa. Ficamos abaixo
de cidades muito mais pobres no Norte e Nordeste, como Teresina,
Aracaju e Rio Branco. Não há justificativa para
a posição de São Paulo, exceto a falta
de empenho e seriedade com que se tratou cronicamente a transmissão
de conhecimento entre os mais pobres.
Nós nos orgulhamos de ser uma cidade de ponta, com
suas universidades, centros de pesquisa, empresas de tecnologia,
do requinte da moda, da culinária, dos cinemas, dos
teatros, dos museus. Somos sede das fundações
empresariais voltadas à educação e das
ONGs.
Mas não soubemos canalizar toda essa inteligência
para cuidar mais e melhor das escolas, sem as quais não
há inclusão social possível. Não
soubemos acompanhar a interrupção de programas
ao sabor das mudanças dos prefeitos e dos secretários,
com sua vaidade autoral e brigas partidárias. Não
soubemos ver que nenhuma criança consegue aprender
em lugares com três turnos diurnos. Ou que muitas crianças
não aprendem porque têm problemas básicos
de saúde como anemia de ferro ou falta de óculos.
Deixamos a responsabilidade nas mãos dos governantes
(o que é uma demonstração de irresponsabilidade).
Deixamos a educação apenas nas mãos dos
pedagogos e educadores e de suas corporações,
quando deveria ser um tema de toda a coletividade, a começar
dos pais.
Os brasileiros em geral deveriam sentir vergonha desse ranking,
afinal fomos mal. Os paulistanos deveriam sentir ainda mais
vergonha, pois poderíamos ter feito muito mais do que
fizemos.
Se sentíssemos vergonha (o que não está
acontecendo) já seria um bom começo.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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