Há
8 anos, comprou um táxi. Logo percebeu que, se oferecesse
serviços extras, ganharia melhores gorjetas
O motorista de táxi João Batista Santos descobriu
como entrar na onda ecológica. Terminada a corrida
e de posse de uma tabela, ele informa ao passageiro quanto
o trajeto significou de gases que produzem efeito estufa.
"Não sabia que era tão simples fazer as
contas." Daí ele tenta sensibilizar o passageiro
a reparar o dano ecológico.
Não foi difícil para João Batista aprender
esses conceitos. Aos 15 anos, ele contrariou o pai e deixou
a cidade em que morava no interior de Alagoas. A escola mais
próxima ficava a seis quilômetros da roça
de sua família - "eu fazia o trajeto a pé"-
e só oferecia até a quarta série. Em
suas despedidas para São Paulo, prometeu que iria ter
curso superior. Conseguiu emprego de office-boy, matriculou-se
numa escola pública, cursou um supletivo e, para cumprir
a promessa, entrou numa licenciatura em biologia de uma faculdade
privada. O diploma ficou inútil. Até surgir
a idéia do ecotáxi.
Deixou a profissão de office-boy, começou
a vender carros num consórcio e, depois, tornou-se
corretor de imóveis. Há oito anos, comprou um
táxi. Logo percebeu que, se oferecesse alguns serviços
extras, ganharia melhores gorjetas. O passageiro entra no
táxi de João Batista e ouve uma salva de palmas
gravada num CD, além de ter à sua disposição
água mineral, água-de-coco, cerveja e até
uísque. Cada um paga o que quer. A generosidade é
recompensada. "A maioria sempre paga alguma coisa."
No final, acaba saindo no lucro.
Além disso, ele aprendeu a fazer roteiros específicos,
intitulados "Ateliê" (visita a ateliês
da Vila Madalena e dos Jardins, com direito a conhecer os
artistas), "Popular Fashion" (rua José Paulino),
"Executivo Fashion" (lojas da Oscar Freire e a Daslu).
"Sou hoje muito mais paulistano do que alagoano."
Com esses produtos, montou um cadastro de 2.700 clientes,
com os quais se comunica por e-mail.
Percebeu que, entre seus passageiros, havia uma preocupação
ecológica. "Eu soube, pela internet, que seria
possível calcular a poluição emitida
pelo meu carro." Apenas a informação não
seria suficiente. Ele se dispôs a mostrar uma lista
de entidades que aceitariam doações para plantar
árvores, como S.O.S Mata Atlântica. Sente-se
até estimulado a receber mudas e plantá-las
com suas próprias mãos, enviando a foto para
o doador.
João Batista não sabe quanto vai conseguir reduzir
do efeito estufa. O que aposta é que, com esse projeto,
vai atrair a simpatia de uma clientela ecologicamente correta.
"Sou o primeiro táxi carbon free do mundo",
orgulha-se. No mínimo, será mais um "case"
de marketing verde.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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