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saúde
02/02/2004
Viroses exigem acompanhamento

"É uma virose." Quantos já não receberam um diagnóstico pouco específico como esse no hospital, recomendação de cama e boa alimentação, e voltaram para casa ainda mais confusos?

Em geral, os médicos dão essa resposta quando não é possível identificar rapidamente o vírus causador do desconforto. O quadro é nebuloso, com sintomas comuns às infecções consideradas inofensivas causadas por esses microrganismos, como cansaço, febre, falta de apetite.

De acordo com Artur Timerman, médico-assistente da clínica de doenças infecciosas do Hospital Heliópolis, de São Paulo, mais de cem tipos de vírus podem nos infectar, mas é possível diagnosticar rapidamente apenas cerca de 20 deles, estima.

A maior parte das viroses benignas tem origem em duas "famílias" de vírus: a dos adenovírus (que causam resfriados) e a dos enterovírus (que causam também problemas intestinais). O vírus influenza, causador da gripe, também é importante.

"Quando fazemos um diagnóstico de virose, damos um atestado de nossa incompetência para identificar rapidamente o vírus. Também não gosto de dizer "virose". Parece que você está querendo enganar", diz Timerman. "Mas mais importante do que o diagnóstico é a conduta."

Até que saia o resultado do exame de sangue, a recomendação de cama, líquidos, boa alimentação serve para fortalecer as defesas do corpo, explica o médico.

Mesmo em quadros simples, alguns pacientes, desidratados, sem conseguir comer, podem precisar de internação para evitar uma piora ainda maior do estado geral.
De acordo com Clóvis Francisco Constantino, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), o diagnóstico de virose é "totalmente ético, factível", diante das dificuldades de se apontar facilmente qual o culpado pelo quadro infeccioso.

O presidente do Cremesp diz que, apesar de todos os vírus serem passíveis de identificação, muitas vezes a análise pode demorar mais do que a doença. A saída é fazer um acompanhamento adequado enquanto os exames não saem. "Não é dizer: "O senhor tem virose. Até logo'", afirma.

Seis, sete dias sem melhora, após o diagnóstico de virose, são indicativos de que pode não ser uma infecção tão inofensiva, explica o presidente do conselho.

Algumas doenças virais podem evoluir para uma situação grave em 24 horas, caso da meningite, grave, explica Orlando Jorge da Conceição, chefe do serviço de infecção hospitalar do Hospital São Luiz, de São Paulo. "Às vezes começa com febre, mal-estar, mas inicialmente não dá nem dor de cabeça", afirma.

Para Constantino, os pacientes devem ficar alertas para novos sintomas ou sintomas que pioram, como alteração no ritmo respiratório, tosse progredindo. E voltar a buscar ajuda profissional.

Crianças, idosos e pessoas debilitadas por outros problemas de saúde, como o diabetes e doenças cardíacas, devem receber atenção especial. Neles as queixas são ainda mais difíceis de serem identificadas -não localizam as dores, por exemplo. E, pela fragilidade do sistema de defesa, mesmo uma virose benigna pode evoluir mal.

De acordo com Timerman, um quadro de virose pode piorar não só porque o vírus é mais perigoso do que parecia.

A infecção por vírus pode debilitar o organismo e facilitar infecções bacterianas associadas.

Fumantes, que têm o sistema imune abalado pelo tabaco, também têm mais chances de complicações como esta, explica o infectologista do Hospital Heliópolis.
Infelizmente há pouquíssimas drogas para combater as infecções virais benignas -as que existem são para as doenças virais graves, como a Aids.

Diagnóstico abusivo
Para Vicente Amato Neto, infectologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, o diagnóstico de virose tem sido abusivo no cotidiano dos hospitais. Ele afirma que o paciente tem o direito, no mínimo, a um pouco mais de diálogo.

"Mais ou menos que tipo, qual setor foi mais acometido pelo vírus. São algumas das perguntas que devem ser respondidas", diz o professor Amato Neto.



FABIANE LEITE
da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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