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  Saúde
17/11/2003
Cresce obesidade infanto-juvenil no país

Pesquisas aqui e fora do Brasil indicam que as crianças estão engordando mais rapidamente que seus pais. No Brasil, estima-se que, na população de 6 a 18 anos, existam ao menos 6,7 milhões de obesos, se mantidas as taxas do último levantamento de 1997.

Várias estudos revelam que o número de crianças e adolescentes acima do peso aumentou de 3% para 15% de 1975 a 1997, chegando a 6,5 milhões de crianças obesas, na época. Os homens adultos gordos passaram de 3% para 7% nesse período, e as mulheres, de 8% para 13%. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a incidência de obesidade infanto-juvenil no Brasil cresceu 240% nos últimos 20 anos.

Os dados constam do "Projeto Escola Saudável", documento que a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e várias outras instituições encaminharam aos ministérios da Saúde e da Educação pedindo socorro.

Ou se faz alguma coisa rapidamente, a começar pela escola, ou o Brasil vai seguir o caminho dos EUA: estima-se que lá, no ritmo com que os obesos vêm crescendo, o país inteiro estará gordo em 30 anos. Terão que aumentar o tamanho dos bancos e as catracas dos ônibus, sem falar no número de doenças, que dobrará.

A contra-ofensiva brasileira está começando pelas escolas e pela merenda escolar. A União, que repassa a maior parcela da merenda -R$ 0,18 para creches e pré-escolas e R$ 0,13 para o ensino fundamental, por aluno/dia-, tem incentivado Estados e prefeituras a contratarem nutricionistas. Dos 37,8 milhões de beneficiados pela merenda, a grande maioria ainda recebe alimentação inadequada.

Por iniciativa própria, muitas escolas particulares e dezenas de cidades estão se adiantando e melhorando suas merendas ou cantinas, como Florianópolis, São Paulo, Piracicaba, Santos, Uberlândia e Recife. Diversos municípios já criaram um Conselho de Alimentação Escolar (CAE), que tem a participação da comunidade.

O endocrinologista Gustavo Caldas, presidente do Comitê de Campanhas da SBEM, fez uma pesquisa com 900 alunos e 40 escolas de Pernambuco (50% públicas e 50% privadas). "O estudo mostrou que as crianças comiam poucas frutas e verduras, ingeriam muita gordura", relatou.

"Não tomavam café da manhã e comiam mais nos períodos livres, especialmente quando viam TV", afirma Caldas. "A partir daí, levamos para as escolas um programa de educação alimentar, informando sobre o que comiam e os benefícios e os malefícios de cada alimento." O programa transformou-se no embrião do "Projeto Escola Saudável".

Os especialistas estão preocupados também com os adultos, que acabam virando modelo. Nas casas onde os pais dão exemplo, as crianças comem de maneira mais saudável, constatou José Augusto Taddei, professor de nutrição e metabolismo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Taddei estudou escolas da região da Vila Mariana (zona sul de São Paulo) e constatou que o consumo de refrigerantes por criança, por ano, passou de 7 litros para 22,4 litros de 1975 a 1996.

Merendeiras sem capacitação oferecem bolachas com recheio como uma maneira de manter as crianças felizes. "Em certos países da Europa, a TV é proibida de fazer propaganda de guloseimas e refrigerantes durante programas infantis", afirma Taddei.

Nos serviços de obesidade infantil, como o da Unifesp e o do Hospital das Clínicas, o tratamento é multidisciplinar, e os pais também são acompanhados. "A participação da criança nas atividades é maior quando os pais são envolvidos", diz a endocrinologista Sandra Vilares, do ambulatório de obesidade infantil da Faculdade de Medicina da USP.

A cada seis meses, ela seleciona 30 a 40 crianças que entram no serviço, de uma fila de espera que chega a 400. São crianças obesas, muitas já com problemas de saúde como colesterol alto e diabetes. "Em alguns anos, a média de idade de adultos que se tornam diabéticos cairá de 40 para 30 anos."

Além de acompanhamento psicólogo, endócrino e nutricional, as crianças têm exercícios físicos três vezes por semana.

Para os especialistas, as cantinas acabam agindo como vilões dentro das escolas, levando a criança a trocar a merenda por guloseimas e coxinhas engorduradas. Mas alguns defendem que nem todas as escolas devam oferecer refeições completas, o que acabaria tornando as crianças obesas.

"Em escolas públicas centrais, onde a criança já vem alimentada de casa, a merenda deveria ser uma refeição leve", alerta Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia.

Divergências à parte, o custo da obesidade deve duplicar em dez anos. Segundo a SBEM, os serviços de saúde do Brasil já vêm gastando R$ 1,45 bilhão com doenças relacionadas à obesidade.




Aureliano Biancarelli
da Folha de S.Paulo.

   
 
 
 

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