O governo federal decidiu, em reunião
anteontem no Palácio do Planalto, voltar a discutir
a implantação de cotas para negros no vestibular
de universidades federais antes de publicar medida provisória
sobre o assunto.
Relatório entregue no final de 2003 pelo grupo interministerial
criado para tratar do tema sugeria a publicação
de uma MP autorizando instituições federais
a adotarem as cotas a partir deste ano.
Além disso, o documento propunha a criação
de um fundo com recursos que seriam distribuídos para
as universidades usarem em projetos visando a manutenção
dos alunos no ensino superior.
O sistema a ser adotado para considerar o aluno negro seria
a autodeclaração.
A expectativa era que a medida fosse publicada ainda neste
mês. A Folha apurou que críticas feitas à
adoção de cotas no ensino superior influenciaram
a decisão do governo de ampliar o debate antes de publicar
alguma definição.
Para a ministra Matilde Ribeiro (Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial), responsável
pela coordenação do grupo, o governo não
conseguirá evitar críticas, mesmo após
realizar mais debates.
"Assim como a discriminação é histórica,
as críticas também são. Não acho
que chegaremos a um momento em que elas não existirão
mais", disse a ministra.
Segundo ela, será montado um cronograma de discussões
com entidades e especialistas para voltar a tratar do assunto.
"Sabemos da importância da adoção
das cotas, mas queremos fazer sem afogadilhos", afirmou.
A ministra disse considerar as cotas uma parte das ações
afirmativas e uma medida transitória, que precisa ser
combinada a outras políticas de governo, como a melhoria
do sistema público de educação.
Dados do questionário socioeconômico do Provão
apontam que a proporção de negros e pardos entre
os formandos do ensino superior aumentou nos últimos
quatro anos. Em 2000, 15,7% dos formandos de 18 áreas
avaliadas se declararam negros ou pardos, percentual que aumentou
para 20,7% em 2003, uma variação de 32%.
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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