O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva deu início ontem à primeira reforma
ministerial de seu governo. Definiu a escolha de pelo menos
mais quatro ministros, todos deputados federais, e formalizou
a saída de outros.
O deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) chefiará
o novo superministério da área social. Aldo
Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara,
será ministro da Articulação Política,
numa redivisão de atribuições da Casa
Civil. O líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos
(PE), assumirá a Ciência e Tecnologia. E o líder
do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), comandará
as Comunicações.
Miro Teixeira (sem partido, RJ) deixa as Comunicações
para assumir a liderança do governo na Câmara
no lugar de Aldo Rebelo.
O superministério social é resultado da junção
das pastas de Benedita da Silva (Assistência Social)
e de José Graziano (Segurança Alimentar). Ambos
estiveram ontem com Lula. Benedita levou flores para Lula.
Foi descartada a ida dela para a vaga de Emília Fernandes
(Políticas para as Mulheres); seu destino é
incerto. Graziano foi convidado por Lula para integrar sua
assessoria especial. Chateado, ele não deu resposta.
A nova pasta social incorporará ainda o programa Bolsa-Família,
coordenado por Ana Fonseca. Até ontem não havia
nome decidido para esse ministério. Uma possibilidade
é Ministério do Desenvolvimento Social.
Eduardo Campos, que substituirá Roberto Amaral, foi
convidado por José Dirceu (Casa Civil) à tarde,
por meio de telefonema, para ir ao Planalto à noite.
Seu nome foi oficializado pelo Planalto às 21h, após
conversa com Lula. Patrus Ananias também se encontrou
com o presidente à noite, mas saiu às 22h50
sem falar.
O nó do PMDB
Com a escolha de Eunício Oliveira para as Comunicações,
a primeira das duas pastas que caberão ao PMDB, falta
definir a segunda vaga do partido.
Seguia indefinido até a conclusão desta edição
o segundo ministério peemedebista. Cresceu muito a
articulação para segurar Ricardo Berzoini na
Previdência, pasta antes ofertada ao PMDB. Há
ainda a avaliação da cúpula do governo
de que seria desgastante usar a Previdência como moeda
de troca política.
Anteontem, Lula pediu a Berzoini para iniciar negociação
com aposentados sobre revisão de benefícios,
o que foi visto como sinal de que ele tenderia a ficar no
cargo. Lula marcou reunião para as 10h de amanhã
com a cúpula do PMDB a fim de bater o martelo com o
partido. O presidente do Senado, José Sarney (AP),
principal negociador peemedebista na reforma ministerial,
estará presente. Ele passou a semana no Maranhão,
à espera da missa de sétimo de dia de sua mãe,
que morreu na sexta-feira passada.
Clima de guerra
O presidente cogita oferecer Transportes ao partido, mas há
complicadores. Lula prefere o senador Pedro Simon (RS), mas
a bancada de senadores tem resistência. Os senadores
Maguito Vilela (GO) e Garibaldi Alves (RN) continuam ministeriáveis.
O senador Romero Jucá (RO) voltou a integrar essa lista.
O senador Hélio Costa (MG) antecipou sua volta dos
Estados Unidos para participar da reunião da bancada
do PMDB no Senado, também marcada para amanhã,
após encontro com Lula. A bancada está em pé
de guerra. Pelo menos oito senadores são candidatos
à vaga, mesmo sem saber qual ministério caberá
ao partido.
Um obstáculo é o que fazer com Anderson Adauto
(PL), titular dos Transportes que tem sido bancado no posto
pelo vice-presidente, José Alencar, apesar de a cúpula
do governo julgar o ministro um fraco executivo. É
preciso acomodar o PL no primeiro escalão. Demonstrando
cansaço e tensão, Lula desabafou com interlocutores,
pouco antes de começar a atender os ministros que sairiam
dos postos. "Botar [ministro] é fácil,
tirar é difícil."
O primeiro encontro de Lula foi às 9h, com o governador
de Minas, Aécio Neves (PSDB), e com o prefeito de Belo
Horizonte, Fernando Pimentel (PT). Ambos deram aval ao nome
de Patrus, numa provável combinação visando
a sucessão na capital e no Estado.
Roberto Amaral, por sua vez, saiu atirando. Disse que caiu
da Ciência e Tecnologia por falta de apoio partidário,
mas Amaral estava desgastado junto à comunidade científica
e à cúpula do governo, que o via como um executivo
fraco. De quebra, o PSB o abandonou.
O novo líder do PMDB na Câmara deve ser José
Borba (PR). Renato Casagrande (ES) deverá ficar na
liderança do PSB na Câmara. Dirceu articulou
com Eunício e Campos o apoio a Borba e a Casagrande
para continuar a ter, no comando das bancadas do PMDB e PSB,
aliados de primeira hora do governo.
Nas conversas ao longo do dia, Lula voltou a reclamar da
cobertura da mídia sobre a reforma ministerial. "Não
vou fazer reforma sob pressão da imprensa."
KENNEDY ALENCAR
RAYMUNDO COSTA
da Folha de S. Paulo
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