O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva demitirá o ministro Cristovam Buarque
(Educação). Já convidado, Tarso Genro
(Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) será
seu substituto. A decisão foi tomada ontem à
noite, segundo a Folha apurou.
Lula passou ontem o dia fazendo os últimos acertos
na reforma ministerial. Decidiu que dará a Previdência
Social ao PMDB. O destino do titular da pasta, Ricardo Berzoini,
ainda é incerto. Ele pode ocupar o Ministério
do Trabalho, hipótese mais provável até
a noite de ontem, ou reassumir o mandato de deputado federal
na Câmara, onde presidiria uma comissão, como
a de Orçamento.
Hoje, em reunião com a cúpula do PMDB, Lula
decidirá o nome do novo ministro da Previdência.
O senador Garibaldi Alves (RN) é o mais cotado, mas
há uma disputa entre seus colegas de bancada.
O partido terá duas pastas em troca de apoio congressual
a Lula e uma aliança com o PT nas eleições
deste ano e de 2006. Além da Previdência, o partido
ficará com as Comunicações -o líder
do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), será
o ministro.
Garibaldi é o nome preferido do presidente do Senado,
José Sarney (AP), o principal negociador peemedebista
com o governo federal. O partido também indicará
o presidente da Eletrobrás.
A mudança provoca uma reengenharia na presença
petista no ministério. O titular do Trabalho, Jaques
Wagner, esteve ontem com Lula e disse que preferia ser candidato
a prefeito de Camaçari (BA) a comandar o Conselhão
de Tarso, como ofertou o presidente. Lula pediu a Wagner que
aguardasse uma decisão sua.
Se Wagner não for para o posto, o Conselhão
se subordinará ao ministro-chefe da Secretaria Geral
da Presidência, Luiz Dulci.
Também é remota a chance de Berzoini ir para
o Conselho. A interlocutores, disse que não queria
criar constrangimentos para Wagner e que poderia retornar
à Câmara. De todo modo, o Conselhão é
visto como um prêmio de consolação pelos
petistas.
Desabafo
Anteontem, Lula disse aos novos ministros que tiraria Cristovam
da equipe. Mas o vazamento da informação e o
fato de Cristovam estar no exterior geraram indefinição
até a noite de ontem, quando, em reunião no
Planalto, o presidente disse a auxiliares que a decisão
de trocar o ministro da Educação era irreversível.
Em tom de desabafo, Lula deu um tapa na mesa anteontem à
noite, quando conversava com o novo ministro da Ciência
e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB-PE). Disse que não
agüentava mais "acadêmicos" no governo
e que tiraria Cristovam. "Quero ministros para apresentar
resultados, não para ficar com tese, com conversa.
Por isso, estou pegando essa turma boa da Câmara",
disse.
A "turma da Câmara" são os quatro
novos ministros que Lula confirmou anteontem: Eunício
nas Comunicações; Patrus Ananias (PT-MG) no
novo superministério da área social; o líder
do PSB na Câmara, Eduardo Campos (PE), na Ciência
e Tecnologia; e o líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo (PC do B-SP), na nova pasta da articulação
política.
A Folha antecipou as escolhas de Eunício e de Campos,
além de ter revelado a preferência do presidente
por Patrus Ananias e a definição da fusão
na área social.
O presidente avalia que Cristovam é um bom formulador,
mas um mau gestor. Por isso, quer tirá-lo do cargo.
Ontem, o presidente disse que era hora de mostrar resultados
e que a educação era uma área sensível.
Como escolheu um ministro com experiência administrativa
para a área social (Patrus é ex-prefeito de
Belo Horizonte),
Lula optou por Tarso, ex-prefeito de Porto Alegre, para o
Ministério da Educação. As gestões
de ambos são consideradas excelentes pelo PT.
Cristovam está em Portugal e amanhã deve se
incorporar à comitiva de Lula que vai à Índia.
O presidente deverá ter uma conversa por telefone com
ele hoje.
As razões do vai-e-vem sobre a segunda pasta do PMDB
aconteceram devido às tentativas no Planalto e no próprio
PT de salvamento de Berzoini.
Assim como em relação a Cristovam, Lula manifestou
a ministros e deputados a intenção de tirar
Anderson Adauto (Transportes), por julgá-lo ineficiente.
Sua pasta poderia ter um novo titular. Mas o vice-presidente,
José Alencar, reagiu duramente para segurar Adauto,
seu correligionário no PL. Houve cogitação
de que o partido poderia indicar outro nome para a pasta.
Posse
Há chance de uma medida provisória ser publicada
hoje, a fim de acertar a situação jurídica
das novas pastas (a da área social e a da articulação
política) para que novos ministros tomem posse ao longo
do dia. Ontem, foi publicada a exoneração de
Roberto Amaral da Ciência e Tecnologia -seu secretário-executivo,
César Callegari, é o interino no ministério.
Outra possibilidade aventada ontem no Planalto era marcar
a posse para a semana que vem, com a presença do presidente
interino, José Alencar, já que Lula estará
em viagem à Índia.
KENNEDY ALENCAR
RAYMUNDO COSTA
da Folha de São Paulo, sucursal de Brasília
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