O FMI (Fundo Monetário Internacional) considerou um "respiro estratégico"
a decisão do Banco Central de não reduzir a
taxa básica de juros no Brasil anteontem, mas afirma
serem "excessivos, em qualquer medida, os juros reais
(descontada a inflação) de 9% ao ano" vigentes
hoje no país.
"Depois de reduzir em dez pontos a taxa de juro em menos
de um ano, o Banco Central decidiu respirar", disse Philip
Gerson, chefe da Divisão Atlântica do FMI para
o Hemisfério Ocidental. A taxa básica (Selic)
está em 16,5% ao ano. "Mas o desafio do Brasil
permanece o de estender sua taxa de crescimento, que tem sido
desapontadora." Para o funcionário do Fundo, apesar
dos progressos obtidos, "muitos dos problemas do Brasil
que minaram a confiança dos mercados ainda continuam
presentes".
"O Brasil deve aproveitar a atual situação
favorável nos mercados para melhorar o perfil de sua
dívida, eliminar gastos fixos para ampliar programas
sociais, tomar medidas para reduzir os "spreads"
nos empréstimos bancários e desburocratizar
o setor empresarial", disse Gerson.
"A conquista de autonomia do BC também seria
importante para ampliar a confiança do mercado",
disse. Para o FMI, esse cardápio de medidas permitirá
uma queda maior dos juros no médio prazo.
Contradição
A contradição entre juros altos e a necessidade
de crescimento no Brasil marcaram ontem as discussões
do seminário "Brasil, um ano depois de Lula",
em Washington, que reuniu dez economistas e especialistas.
O consenso é que o Brasil não está livre
do risco de uma nova crise que coloque em risco o pagamento
de sua dívida.
O economista John Williamson, criador da expressão
"Consenso de Washington", disse, no entanto, que
o BC teria sido "irresponsável" se tivesse
continuado agora com sua política de corte de juros.
"O Banco Central foi prudente. O Brasil não pode
mais pagar o preço de colocar em dúvida seu
sistema de metas de inflação", disse. Desde
que o sistema foi implantado, há cinco anos, a meta
não foi alcançada em três anos - ou seja,
há mais casos de descumprimento do que de sucesso.
Para Desmond Lachman, ex-diretor para mercados emergentes
da Salomon Smith Barney e do FMI, "a sustentabilidade
da dívida brasileira continua levantando dúvidas,
apesar de toda a ortodoxia recente do governo".
Philip Gerson, do FMI, pondera, no entanto, que "o ambiente
geral para os mercados emergentes estaria muito pior hoje
se o Brasil não tivesse se saído bem da sua
última crise".
FERNANDO CANZIAN
da Folha de S. Paulo, em Washington
|