O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que assinou ontem acordos comerciais e de cooperação
tecnológica com a Índia, disse que a união
de países pobres poderá mudar a geografia comercial
no mundo e quebrar a unilateralidade imposta nas relações
comerciais pelas nações desenvolvidas.
"A Índia e o Brasil juntos podem construir uma
força política capaz de contribuir para que
a geografia comercial do mundo possa mudar para melhor e atender
aos interesses dos povos mais pobres do planeta", afirmou.
Os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai
e Paraguai) assinaram acordo de preferências tarifárias
fixas com a Índia. Foi o primeiro acerto comercial
do bloco com um país asiático.
Lula realiza agora sua segunda viagem internacional deste
ano e a vigésima desde que tomou posse, em janeiro
do ano passado. Depois da Índia, irá à
Suíça.
A visita tem caráter comercial e político.
O Brasil tem interesse em fortalecer o comércio com
a Índia, país de 1 bilhão de habitantes
com um mercado consumidor estimado em 200 milhões de
pessoas.
Além do comércio bilateral, Lula quer fortalecer
o chamado G3, formado por Brasil, Índia e África
do Sul, para que tenha mais força nas negociações
internacionais e consiga um representante entre os membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A negociação entre o Mercosul e a Índia
começou a ser alinhavada em junho de 2003, em Assunção
(Paraguai). Ontem, foi assinado o acordo-base, que estabelece
as diretrizes de implantação das preferências
tarifárias -quais serão as regras que nortearão
a redução de tarifas de uma lista de produtos.
O Mercosul apresentará uma lista com 1.200 produtos.
Já a Índia, espera-se, chegará à
mesa de negociação com 600 produtos. Já
está previamente acertado que produtos farmacêuticos
e pneus ficarão de fora do acordo, porque a indústria
indiana tem custos menores e, consequentemente, preços
mais competitivos do que os praticados nos países do
bloco.
O acordo assinado com a Índia é o primeiro
passo para a criação de uma área de livre
comércio entre o Mercosul e o país asiático.
Em seu principal discurso do dia, feito durante a reunião
ministerial Brasil-Índia, Lula foi duro em relação
à política comercial dos países ricos.
Citou o G-20 (grupo de países pobres que atua em conjunto
na Organização Mundial do Comércio) como
uma alternativa para tentar derrubar os "injustificáveis
subsídios com que os países ricos distorcem
a economia agrícola do mundo".
O presidente, que, numa reunião em Brasília
em dezembro, propôs a criação de uma área
de livre comércio entre os países do G-20, deu
ontem a data para o início das negociações:
junho.
Lula ressaltou as similaridades entre Brasil e Índia
e os benefícios que o estreitamento das relações
entre os dois países pode gerar.
"De nada adianta para a Índia e para o Brasil
ficar de braços cruzados esperando que os países
ricos resolvam nossos problemas", afirmou. E prosseguiu:
"É preciso que nós mesmos, países
em desenvolvimento, assumamos a responsabilidade pelo nosso
destino e juntemos forças para poder defender em pé
de igualdade os nossos interesses, seja nas questões
relativas à paz e à segurança internacional".
GABRIELA ATHIAS
Enviada especial da Folha de S. Paulo a Nova Deli
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