Um rapaz de 17 anos foi morto a tiros, na madrugada de ontem, em uma tentativa
de fuga dentro da unidade 3 do complexo Vila Maria da Febem,
na zona norte de São Paulo. A origem dos tiros que
mataram o interno e feriram outros dois ainda é um
mistério.
Os funcionários da Febem disseram à polícia
não terem ouvido os tiros. A Polícia Militar
negou ter usado armas na ação. Os internos ainda
não foram ouvidos.
Segundo o boletim de ocorrência registrado no 81º
DP (Belém), os adolescentes quebraram janelas e usaram
o suporte de uma rede de vôlei para romper um alambrado
em uma tentativa de fuga às 3h de ontem. Teriam usado
ainda facas artesanais para tentar forçar a saída.
"Ainda não sabemos nada da arma", disse a
delegada de plantão do 81º DP, Denise Prado, que
ouviu policiais e monitores na tarde de ontem.
Representantes do conselho tutelar da região ouviram
alguns dos internos que participaram da tentativa de fuga.
Eles disseram que ficaram encurralados entre os funcionários
e os PMs, que estavam do lado de fora da unidade, que tem
capacidade para 96 pessoas, mas abriga 129 internos.
Na versão deles, os tiros partiram dos servidores
da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) ou dos policiais.
Nenhum funcionário foi baleado. Sofreram apenas ferimentos
leves, segundo a Febem.
Negligência
Representantes do conselho alegam que houve demora no atendimento
aos internos feridos. "O rapaz que morreu, morreu de
hemorragia por falta de atendimento", disse Deolinda
Gomes, conselheira tutelar da Mooca.
O menor chegou ao hospital do Tatuapé, na zona leste,
morto. Levou quatro tiros no abdômen.
Parentes de um dos menores feridos afirmaram que ele ficou
"sangrando no chão" até ser levado
ao hospital. "Que Estado é esse que deixa a coisa
a um ponto de balearem dentro da unidade?", questionou
Luciana Moluca, 33, amiga da família.
O hospital informou que os internos deram entrada entre as
4h10 e as 6h15. A Febem nega que o socorro tenha sido protelado.
Um dos feridos continuava em estado grave, por causa de um
ferimento à bala na perna. O outro, com uma bala alojada
no abdômen, permanecia sob observação
até a noite de ontem. Dois outros internos foram atendidos
no hospital com contusões e fraturas.
A Assessoria de Comunicação da PM informou
que o caso está sob investigação na corregedoria
do órgão. Já a Febem abriu uma investigação
interna sobre o caso.
Segundo a assessoria de imprensa da fundação,
funcionários e vigilantes terceirizados são
proibidos de usar armas nas unidades.
De acordo com a delegada, serão feitos exames residuográficos
nos funcionários, nos policiais e nos internos, em
busca de sinais de uso de armas. Não havia sinais de
tiros nas paredes. Por isso possivelmente a análise
para descobrir a arma usada terá de ser feita com os
projéteis encontrados nos corpos dos internos.
FABIANE LEITE
da Folha de São Paulo
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