BRASÍLIA. No início
de janeiro, o ex-ministro da Educação Cristovam
Buarque enviou uma carta ao ministro-chefe da Secretaria de
Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, do chamado
núcleo duro do governo, fazendo duras cobranças
por uma maior atuação do governo Lula na área
social. Cristovam criticou o fato de o governo ter priorizado
a política econômica, deixando em segundo plano
a política social. Reforçando as queixas mantidas
durante todo o ano passado e os pedidos de mais verbas para
a educação, que tanto desagradaram ao governo,
ele alertou ainda que 2004 exigirá do governo “sair
da confiança para a mudança”. “Fracassaremos
se formos apenas os guardiões da moeda e da economia”,
alertou.
Na sua opinião, o governo deveria priorizar este ano
o combate à pobreza, com geração de emprego
e distribuição de renda, “sob pena de
ficar numa situação muito incômoda”.
“Até aqui agimos como se o social e o econômico
disputassem. Ministros da área social reclamando, como
se não tivessem responsabilidade com a estabilidade,
e ministros da área econômica controlando os
recursos como se nada tivessem a ver com o social”,
alertou Cristovam.
Preocupação
Cristovam — que desembarcaria ontem à
noite em Brasília, de volta de uma viagem a Portugal,
onde lançou seu livro “Admirável mundo
atual” — escreveu a carta de seis páginas,
além de um anexo de outras nove páginas, no
Ano Novo.
“O social fez seus projetos e o econômico fez
seus cortes (no PPA). Não se analisou, por exemplo,
o risco de desestabilizar a economia, nem o papel dos gastos
sociais como dinamizadores da economia”, afirmou Cristovam
na carta, sugerindo a criação de um conselho
ministerial para resolver o problema.
Em várias passagens, Cristovam ressaltou que o governo
Lula foi eleito para fazer mudanças profundas.“É
um equívoco achar que a queda da taxa de juros levará
naturalmente ao crescimento, mas ainda pior, se ele vier,
poderá vir sem aumento da renda e de emprego, que dependem
ainda mais de vetores estranhos ao governo, como o avanço
técnico”, salientou Cristovam, alertando ainda:
“Na verdade, este é o cenário provável:
crescimento sem emprego, sem salário e sem distribuição
da renda. O que deixará nosso governo em uma situação
muito incômoda”.
Cristovam começou a carta afirmando que o governo
está “diante de meses durante os quais vamos
marcar a história do Brasil, para o bem, como todos
esperamos, ou para o mal, se não soubermos agir corretamente
e suficientemente para atendermos às expectativas que
nós próprios criamos no povo brasileiro”.
Em seguida, ele faz um alerta sobre a burocracia agir como
um inibidor de novas ações: “É
preciso estarmos alertas, com autocrítica acirrada,
para não cairmos nas malhas da burocracia que tende
a dominar todo governo. Por mais bem intencionados que sejamos,
não perdermos a capacidade de nos indignarmos diante
do que está errado como termina acontecendo ao sentirmos
as dificuldades para mudar a realidade”.
As informações são
do jornal O Globo.
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