|
O faxineiro Nelson da Silva, 30,
tem casa e salário, mas leva a vida de um morador de
rua - ao menos de segunda a sexta-feira, quando dorme num
albergue da zona sul. Nos finais de semana, mora com a família
- mãe, irmãos e sobrinhos - em Itapecerica da
Serra, na região metropolitana de São Paulo.
A "escolha" de Silva de
passar seis das sete noites da semana numa habitação
coletiva, ao lado de desconhecidos, com horário para
entrar e sair, regras rígidas para alimentação
e convivência, é motivada pela despesa para se
deslocar da sua casa ao serviço. "Não sobra
para a condução", diz.
Silva faz parte de um contingente
de trabalhadores que, embora tenham família e até
teto, se misturam aos demais moradores de rua em razão
dos custos para se deslocar todos os dias. Não se trata
de nenhum grupo dominante entre a população
que dorme nas calçadas e albergues. Mas é um
fenômeno que tem chamado a atenção de
especialistas.
"Não temos ainda como
quantificar e não se pode generalizar. Mas não
são casos isolados. É um subgrupo que está
crescendo", diz Silvia Maria Schor, da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas da USP), que coordenou,
há três anos, a mais abrangente pesquisa sobre
os moradores de rua na capital paulista e que finalizou, na
última semana, a fase de coleta de dados de um novo
levantamento, a pedido do governo Marta Suplicy (PT).
Schor conta que, recentemente, identificou
casos de moradores de rua "com teto e sem dinheiro para
a condução" especialmente entre os catadores
de lata e de papelão. Ela lembra do caso de seis homens,
residentes em Franco da Rocha (Grande São Paulo), que
trabalhavam na Barra Funda durante a semana, dormiam dentro
dos carrinhos e só voltavam para casa, juntos, no sábado.
No levantamento feito em 2000, a Fipe
apontou a existência de 8.706 moradores de rua em São
Paulo, dos quais 42% frequentavam albergues. Mais de 60% trabalhavam
em alguma atividade (catador, camelô, pedreiro e carregador,
por exemplo) e a renda média mensal atingia R$ 284.
De 1995 a 2002, a média de
usuários dos ônibus urbanos no país caiu
30%. Em São Paulo, a queda beirou 50%. A principal
razão foi a elevação da passagem -que
subiu de 28,7% a 62,2% acima da inflação no
Plano Real, conforme levantamento em oito capitais brasileiras.
LEIA MAIS
|