|
De cada 10 pessoas que procuram
um cirurgião, uma é adolescente. Facilidade
de pagamento e valorização da estética
justificam explosão
A estudante Isabela Stump, de 17 anos,
fez um pedido inusitado aos pais no ano passado. Queria de
presente de aniversário uma cirurgia plástica
para diminuir o nariz que considerava desproporcional. Isabela
ganhou a operação e, agora, sonha com a possibilidade
de aumentar os seios. “Quero colocar silicone. Minha
mãe já deixou mas preciso de mais tempo”,
diz.
Como Isabela, cada vez mais adolescentes
querem corrigir o que nem sempre é um defeito. O número
de operações realizadas em jovens de 15 a 18
anos no país, passou de modestas 5 mil por ano, em
1994, para 60 mil, em 2003. Um aumento de mais de 1000% em
nove anos.
Hoje, de cada 10 pacientes que procuram
um cirurgião plástico, um é adolescente.
Os motivos para o aumento da plástica
entre os jovens incluem a facilidade de pagamento, simplificação
das técnicas e a necessidade de se encaixar em padrões
estéticos. “Eles passaram a valorizar o corpo
e querem mudar o que não está bom”, admite
Luiz Carlos Garcia, presidente da SBCP.
As meninas querem diminuir o nariz,
aumentar ou reduzir os seios e acabar com as gordurinhas com
o auxílio da lipoaspiração. Eles também
procuram a plástica para diminuir o nariz. Depois,
querem resolver as orelhas de abano e o aumento das mamas,
chamado de ginecomastia. “Existe um padrão internacional
de beleza e os jovens querem segui-lo”, diz o cirurgião
Garabet Karabachian Neto. “Mas se a adolescente vai
se sentir melhor, isso deve ser considerado”, acredita
o cirurgião Ewaldo Bolívar.
Os especialistas admitem que a plástica
na adolescência precisa ser cuidadosa, pois é
uma cirurgia com riscos como qualquer outra. Além disso,
nessa fase, a preocupação com a imagem é
uma regra. “Não podemos banalizar a plástica.
É preciso verificar se o jovem tem maturidade para
isso”, alerta Ronaldo Golcman, chefe da equipe de Cirurgia
Plástica do Hospital Albert Einstein.
Segundo Miguel Perosa, professor de
Psicologia de Adolescência da PUC, a vontade de mudar
o corpo nem sempre é do próprio jovem, mas pressão
dos amigos e da mídia. “Os pais devem valorizar
seus filhos por suas qualidades”, afirma. A preocupação
tem sentido, principalmente quando se lembra que os padrões
estéticos — assim como a opinião dos adolescentes
— mudam rapidamente. A cantora Syang, de 33 anos, por
exemplo, tirou 600 ml da mama quando tinha 17 anos. Depois,
resolveu aumentá-las e colocou uma prótese de
300 ml.
Preço
O preço contribuiu para o aumento
da plástica entre os jovens. Nos hospitais públicos
é possível realizar uma cirurgia com valores
mais modestos. No Hospital São Paulo, uma plástica
de mama para redução ou implante de silicone
sai por R$ 2,5 mil. A lipoaspiração varia de
R$ 1,8 a R$ 4 mil. Nas clínicas particulares custa
até R$ 10 mil. “O valor é menor porque
se trata de um hospital universitário”, diz Miguel
Sabino Neto, professor da Universidade Federal de São
Paulo.
No Hospital das Clínicas, o
Grupo de Cirurgia Plástica Facial, vai inaugurar uma
enfermaria para cirurgias mais baratas. “O valor médio
será de R$ 2 mil”, diz o cirurgião Perboyre
Lacerda Sampaio. A idéia é diminuir a fila do
SUS, que não cobre as cirurgias estéticas, apenas
reparadoras.
Muitas vezes, a operação
corretiva também é uma forma de resolver o problema.
A estudante Isa Maria Bertolucci Zampieri, de 17 anos, aproveitou
um desvio de septo para a plástica no nariz. “Ia
me fazer à cirurgia, resolvi melhorar o formato do
meu nariz, que tinha uma curvinha chata”, conta Isa.
“Fiquei feliz com o resultado”, completa.
Luciana Sobral e Regiane Monteiro
Diário de S. Paulo
|