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saúde
27/01/2004
Usuário defende direito de consumir drogas

Eles se encontram às quintas-feiras numa galeria do centro de São Paulo para compartilhar um "chá de lírio". Lírio é só o nome, pois os chás servidos são de erva cidreira, mate, camomila, desses comprados em supermercado.

De comum, esse grupo tem o uso e a dependência de drogas, sobretudo o crack e substâncias injetáveis. Os encontros são promovidos pelo Centro É de Lei. "Aqui não se usa drogas, mas se fala de drogas", diz Naime Silva, psicóloga e presidente do centro.

Para muitos frequentadores dependentes, este é o único local na cidade onde são ouvidos e respeitados, diz a presidente.

Em Recife, numa casa do bairro do Pina, usuários se reúnem às quartas para participar do "Conversando de Drogas". A conversa é promovida pela Associação de Usuários de Álcool e Outras Drogas em Pernambuco. O objetivo é defender os direitos dos usuários. "A pessoa tem o direito de dispor livremente de seu corpo e de sua mente, podendo experimentar estados de alteração de consciência, inclusive com o uso de drogas", diz Marcílio Cavalcanti de Lima, 43, profissional na área de saúde e presidente da associação

Num país onde o consumo de drogas é crime, as duas associações saem em defesa dos usuários e contam com o apoio do Ministério da Saúde.

As duas entidades estarão ao lado da Rede Argentina de Defesa dos Usuários de Drogas na 1ª Conferência de Redução de Danos da América Latina e Caribe, que acontece em São Paulo entre os dias 9 e 12 de fevereiro.

Também participam o movimento antiproibicionista internacional. Usuários de drogas da Inglaterra e da Bélgica darão seus depoimentos.

"Uma das intenções da conferência é tentar dissociar a política de drogas da Aids", afirma Sandra Batista, psicóloga e presidente da conferência. "A Aids é um componente político das drogas, porque evidencia outros problemas."

Pressão americana
A mudança é significativa: a redução de danos sempre foi considerada uma maneira de reduzir o risco de infecção pelo vírus HIV, causador da Aids, entre usuários de drogas injetáveis. Agora, o conceito se ampliou, extrapolando para outras práticas de consumo e para a política de drogas propriamente dita.

O tema da conferência indica nessa direção, ao afirmar que "outra política de drogas é possível". Segundo Sandra Batista, a idéia de fazer uma conferência latino-americana (já houve uma internacional, em São Paulo) é destacar questões regionais.

Por exemplo, a cocaína é a principal droga na América Latina e seu consumo vem crescendo, diferentemente da Europa e Ásia, onde predomina a heroína -droga mais pesada.

O Brasil e os países da região, segundo Sandra Batista, vivem sob pressão da política norte-americana contra as drogas.

"Enquanto a política de Washington é repressiva e proibicionista, a redução de danos é pragmática e humanista", diz Batista.

Ao lado desses temas, a conferência deve cobrar do governo federal a transferência da política de drogas para o Ministério da Justiça. Desde o governo passado, o tema está sob controle do Gabinete de Segurança Institucional, por meio da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas).

O encontro também defenderá o "abolicionismo penal". "No Paraná, 70% das mulheres presas têm a ver com o tráfico de drogas", diz Sandra Batista.



AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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