BRASÍLIA. O novo ministro
da Educação, Tarso Genro, disse ontem que o
governo vai adotar o sistema de cotas para negros nas universidades,
apesar de achá-las insuficientes para resolver a discriminação.
Para o ministro, as cotas são limitadas por terem “alcance
curto”.
Em entrevista ao GLOBO, publicada no domingo, o ministro
dissera que as ações afirmativas — como
são chamadas as políticas para promover a igualdade
racial — não necessariamente levam às
cotas. Além disso, ressaltou a necessidade de adoção
de políticas direcionadas aos mais pobres, não
apenas aos negros. Tarso ressaltou que a questão racial
no Brasil não pode ser dissociada da social.
Ontem, na sua primeira entrevista no prédio do Ministério
da Educação, depois de conversar com o ex-ministro
Cristovam Buarque, Tarso voltou a dizer que apenas esse tipo
de ação não é suficiente, mas
que mesmo assim ela deve ser implementada pelo governo.
"Tenho a mesma opinião de Cristovam. Essas políticas
devem ser implementadas, mas têm alcance curto, porque
a questão racial no Brasil está fundida com
a questão social. Um grande processo de inclusão
é que vai resolver em definitivo essa questão",
afirmou.
Diálogo
O atual e o ex-ministro da Educação
conversaram ontem à tarde por cerca de meia hora. Cristovam
pediu a Tarso que encaminhasse em breve o projeto que cria
a avaliação das universidades, já pronto
no ministério.
O novo ministro assume a pasta hoje, numa cerimônia
de transmissão de cargo no próprio ministério.
No entanto, ainda não começou a escolher os
integrantes das secretarias. Os antigos secretários
puseram ontem seus cargos à disposição,
mas apenas o chefe de gabinete de Cristovam e o chefe da Secretaria
de Comunicação deixam imediatamente o ministério.
Os demais esperam até que Tarso aponte a equipe para
que se faça a transição.
Ao sair ontem do ministério, Tarso não quis
tratar de outros assuntos da pasta. Alegou que precisava primeiro
tomar conhecimento dos projetos. Elogiou Cristovam e pediu
que ele continuasse dando apoio à área da educação.
"É uma tarefa muito difícil substitui-lo,
mas tenho absoluta certeza de que terei sua colaboração
para somar em benefício do país", disse.
Tarso convidou Cristovam para representar o Brasil num seminário
da comunidade universitária internacional em Cuba,
no início de fevereiro. Alegou que não poderia
viajar, por estar assumindo o ministério, e Cristovam
aceitou.
LISANDRA PARAGUASSÚ
do jornal O Globo
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