O consumidor brasileiro vai ter
que conviver com preços mais salgados nas próximas
semanas. Os analistas afirmam que os índices de inflação
de janeiro e fevereiro ficarão um pouco acima do esperado
e mais altos do que as taxas dos últimos meses. As
pressões vêm de frutas e legumes, mensalidades
escolares e do reajuste de tarifas de ônibus e de energia
elétrica em algumas regiões do país.
E, na alimentação, quando chegar ao varejo a
queda dos hortaliças já registrada no atacado,
será a vez do feijão e do café pesarem
na conta do supermercado.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA,
usado nas metas do governo), que ficou em 0,34% em novembro
e 0,52% em dezembro, pode subir para 0,70% a 0,80% neste e
no próximo mês, prevêem os economistas.
Mas, para os analistas, longe de ser uma ameaça ao
cumprimento da meta de inflação deste ano, as
altas recentes são sazonais.
"Os preços de frutas e legumes tiveram alta sazonal
e vão cair em fevereiro. E os reajustes na educação
já eram esperados, porque as escolas corrigem a mensalidade
no começo do ano", afirma Alexandre Sant’Anna,
da administradora de recursos ARX Capital.
Por isso, ele acredita que, mais do que se preocupar com
as altas recentes da inflação no varejo, o Banco
Central (BC) levou em conta os indicadores de melhora na atividade
econômica para não reduzir os juros básicos
do atual patamar de 16,5% ao ano, em sua reunião mensal
na semana passada. Para Sant’Anna, o BC está
preocupado com a inflação futura, e não
com os índices atuais.
Reajustes
Élson Teles, economista da Fides Asset Management,
acrescenta que alguns reajustes no atacado podem ter acendido
o sinal de alerta. Os preços do aço subiram
de 8% a 10% e os de resinas plásticas, entre 10% e
15%. Ambos são insumos que têm forte impacto
na cadeia produtiva de quase toda a indústria.
"No mês passado, o BC frisou na ata do Copom (Comitê
de Política Monetária, que decide a taxa de
juros) que não iria sancionar reajustes em setores
que liderassem a retomada da atividade econômica",
diz Teles.
Ele explica que a recuperação do consumo costuma
ocorrer primeiro no setor de bens duráveis, que usa
aço e resinas plásticas na produção.
E acrescenta que sondagem feita pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) constatou que 39% das indústrias
pretendiam elevar preços, enquanto pesquisa da Federação
do Comércio de São Paulo mostrou o consumidor
mais otimista, o que pode pressionar a inflação.
Mas, enquanto o BC, na opinião dos analistas, se antecipou
a pressões futuras na inflação, o consumidor
já está sentindo no bolso o peso das recentes
altas nos preços, mesmo que provocadas por fatores
sazonais. O Instituto Fecomércio-RJ informou ontem
que o custo das cestas de compras subiu 0,68% na Região
Metropolitana do Rio na terceira semana de janeiro. As altas
mais fortes foram nos preços de tomate (8,98%), cenoura
(7,66%) e batata (5%).
A expectativa agora é de que o custo de legumes, frutas
e verduras se estabilize. Mas a inflação de
fevereiro terá outros dois vilões: o feijão
preto, que já subiu 14% no mercado atacadista, e o
café, que encareceu 11,5% com a alta das cotações
no mercado internacional. O feijão, que tem peso maior
na inflação, era vendido nos supermercados a
menos de R$ 2, o tipo 1, até a primeira quinzena deste
mês. Agora, a marca Combrasil varia de R$ 2,10 a R$
2,40.
Segundo o presidente da Bolsa de Alimentos do Rio, José
de Sousa, o fardo de 30 quilos do produto subiu de R$ 42 para
R$ 48, em média, este mês, devido ao atraso na
colheita com as chuvas freqüentes nas zonas produtoras.
Os repasses para o consumidor serão graduais.
"Mas a compensação para o consumidor poderá
ser o arroz, que parou de subir com a proximidade da safra
e a chegada de novas remessas importadas — diz José
de Souza".
Atenta à diferença de preço entre os
supermercados, a dona de casa Marilene Chaves não hesitou
em comprar 15 quilos de arroz no Carrefour, na semana passada.
"Gasto 20 quilos de arroz por mês. Com as ofertas,
economizo um pouquinho".
Nas previsões da ARX Capital, o grupo alimentação
deve subir 0,80% no IPCA de janeiro e 0,30%, em fevereiro.
O economista Alexandre Sant’Anna afirma que carnes e
leite vão ajudar na queda dos alimentos. Na coleta
de preços feita pela ARX Capital, esses itens já
caíram mais de 6%. Os números da Bolsa de Alimentos
confirmam a tendência: a cotação da carne
caiu ontem para R$ 4,20, uma queda de 13% em relação
ao início do mês, graças à melhoria
no pasto após as chuvas.
As informações são
do jornal O Globo.
|