Cotado para assumir o posto de capital
mundial do turismo gay e com fama de liberal, o Rio está
longe de se livrar do preconceito e da violência. Uma
pesquisa feita em parceria pela Uerj, Universidade Candido
Mendes e Grupo Arco-Íris, durante a última Parada
do Orgulho Gay, mostra que 56% deles já foram ameaçados
de agressão ou morte por sua condição
sexual e 16% foram efetivamente agredidos por esse motivo.
O trabalho também revelou que mais de 90% dessas pessoas
nem chegaram a registrar queixa em delegacia.
A pesquisa foi desenvolvida em conjunto pelo Centro Latino-Americano
em Sexualidade e Direitos Humanos da Uerj (Clam), o Centro
de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Candido
Mendes e o Arco-Íris. Quarenta voluntários selecionados
pela ONG receberam treinamento dos pesquisadores para fazer
as entrevistas. O resultado foi reunido num livro que será
lançado amanhã, às 21h, no bar Galeria
Café, em Ipanema.
O trabalho mostra que a discriminação não
é igual para todos os homossexuais. Os travestis, por
exemplo, são os principais alvos dos agressores. Segundo
a pesquisa, 42% deles afirmaram ter sofrido violência
física. Já entre os bissexuais as agressões
são menos comuns. Sete por cento deles disseram ter
passado por essa experiência. As lésbicas vitimadas
foram 9,8% das entrevistadas.
"A hipótese mais provável para isso é
que os travestis têm sua condição de homossesual
mais visível. Eles também estão mais
expostos por muitas vezes atuarem na prostituição.
Já gays que têm sua condição menos
explícita sofrem menos", afirma a coordenadora
do Cesec, Sílvia Ramos.
O golpe do Boa noite, Cinderela, em que a vítima é
dopada, também entrou na pesquisa. Enquanto 8,4% dos
homossexuais masculinos e 4,9% dos bissexuais disseram ter
sido vítimas dele, nenhuma lésbica ou travesti
contou ter passado por isso. Os homens com mais de 40 anos
são os mais atacados.
"O que é mais estarrecedor é que 91% das
pessoas não chegam a registrar queixa por descrença
na polícia e medo de discriminação. A
pesquisa mostrou que em 11% dos casos as vítimas não
desabafam nem para amigos e parentes a violência sofrida",
afirma a pesquisadora.
Para o coordenador do Arco-Íris, Cláudio Nascimento,
os dados mostram que o Rio é uma cidade polarizada.
Enquanto uma parte da população aceita os homossexuais,
outra reage contra os avanços que a comunidade gay
vem conquistando. Ele também criticou a falta de políticas
públicas para o grupo e acusou a Secretaria de Segurança
Pública de esvaziar o Disque de Defesa do Homossexual:
"O serviço não dá encaminhamento
adequado às denúncias e os casos acabam não
sendo investigados".
Ninguém na secretaria quis comentar o assunto.
O historiador Luiz Carlos Freitas, 45, é uma vítima
da violência contra homossexuais que não registrou
queixa. Ele foi extorquido por um PM, que o ameaçou
de morte e levou dele o equivalente a US$ 1 mil, mas teve
medo de sofrer represálias:
"Ele ficou com o meu endereço e ameaçou
matar a mim e minha família. Acho que os gays têm
que denunciar mas também preservar sua vida".
As informações
são do Jornal do Brasil
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