Os "excluídos do transporte" que têm
teto e salário -mas que não têm condução
para voltar para casa- podem ser barrados caso queiram dormir
diariamente num dos albergues ou abrigos ligados à
Prefeitura de São Paulo.
A orientação da Secretaria
de Assistência Social é que a prioridade seja
dada aos "totalmente excluídos" -ou seja,
os que não têm nenhuma casa para ficar.
"Há graus diferenciados
de exclusão. Os albergues são para os que estão
totalmente desestruturados", diz Adelina Baroni, coordenadora
do programa Acolher, da gestão Marta Suplicy (PT).
É por essa restrição
que, muitas vezes, quem está nessa situação
nem sempre fala a verdade para conseguir uma vaga. A condição
deles começa a aparecer pela ausência nos finais
de semana. Se houver "fila de espera", podem ser
colocados para fora dos albergues por causa dessas faltas.
A cidade tem 4.817 vagas em 28 albergues
e 436 em moradias provisórias. A quantidade é
insuficiente para abrigar todos os moradores de rua -que,
em 2000, somavam 8.706-, mas muitos nem mesmo aceitam frequentá-los
em razão das regras -como horário para entrar
e sair, obrigação de tomar banho e proibição
de se manter alcoolizado.
Para Adelina Baroni, os casos de gente
com teto e sem dinheiro para voltar para casa "são
pontuais", que devem ser atendidos por "outros programas
sociais". "Sabemos que a renda é insuficiente.
Mas não podemos atender quem tem casa e deixar outros
de lado."
Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde
Pública da USP, afirma que pesquisas qualitativas feitas
nos últimos anos apontam que "os albergues são
uma alternativa não apenas para os casos crônicos,
mas eventuais, trabalhadores de baixa qualificação
em situação de precarização do
trabalho".
O pintor Sérgio da Costa, 36,
tem ficado em albergues nos últimos três meses.
Ele tem teto para dormir e renda -mas convive com a família
(irmã e sobrinhos), que mora em Osasco, somente nos
finais de semana. "O albergue caiu do céu. Antes,
eu cheguei a dormir na rua um mês inteiro por não
ter dinheiro pra passagem."
ALENCAR IZIDORO
Da Folha de S. Paulo
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