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A estiagem que fez o nível
de água da Represa de Guarapiranga, na Zona Sul de
São Paulo, baixar para 22,2% da capacidade está
servindo como fonte de renda para famílias sem emprego
formal. A necessidade de ajudar no sustento da casa fez com
que adolescentes descobrissem no lixo e no ferro-velho revelados
pela seca, na área da represa, uma forma de ganhar
dinheiro.
Entre as pessoas que passaram a viver
disso está o estudante X, de 14 anos, que pediu para
não ser identificado. Segundo ele, em dias de “sorte”,
chega a tirar até R$ 15 por dia. O garoto mora no Jardim
Jacira, em Itapecerica da Serra, Grande São Paulo,
e ajuda a mãe no sustento a cinco irmãos menores.
O pai morreu.
Todos os dias ele sai de casa às
7h. Percorre cerca de 20 quilômetros a pé para
chegar ao bairro da Riviera — onde o nível de
água da represa é mais baixo — e trabalhar.
Aluga um cavalo para puxar sua carroça, por R$ 4 a
viagem, e a lota de cacarecos. O ferro e o papelão
ele consegue vender por R$ 0,16 o quilo, e o plástico
por R$ 0,15.
“A gente consegue um preço
melhor com a venda de latinhas de cerveja e refrigerante.
Algumas pessoas pagam até R$ 2. Mas, por causa do valor,
elas são muito procuradas pelos catadores, e também
mais difíceis de serem encontradas”, diz o estudante.
Segundo ele, o melhor dia para recolher lixo é segunda-feira,
porque os turistas fazem muita sujeira no local nos fins de
semana.
X. trabalha, em média, até
as 15h, porque o dono do cavalo não deixa o animal
ficar mais tempo, principalmente em dias quentes. “Ele
pode ficar cansado e morrer”, afirma. O garoto estuda
na oitava série, à noite. X admite ter vergonha
do trabalho que faz e diz que anda bastante para não
correr o risco de ser visto por colegas. “Eles podem
rir de mim”, afirma. E acrescenta: “Mas, se eu
não ajudar a minha mãe a colocar comida em casa
meus irmãos vão morrer de fome. Por isso não
reclamo”, resigna-se.
Odival Reis
Do Diário de S. Paulo
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