A frota de 15 mil ônibus e
lotações que compõe o sistema de transporte
público da cidade será monitorada por satélite
e o passageiro terá acesso a computadores em terminais
de ônibus para buscar informações sobre
o itinerário. Esses são alguns dos destinos
para a verba de R$ 493,8 milhões que a Prefeitura espera
do Banco Nacional Econômico e Social (BNDES) para o
ano que vem. "Esse tipo de tecnologia evitará,
por exemplo, o atraso dos ônibus e a mudança
de itinerário sem controle", explica o secretário
Municipal de Transportes, Jilmar Tatto.
Terça-feira, a Comissão
de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado autorizou a Prefeitura
a fazer o empréstimo. O projeto será votado
em plenário em regime de urgência. "O próximo
passo é a liberação do dinheiro",
diz o secretário.
Segundo Tatto, o dinheiro será
usado em duas frentes na área dos transportes: obras
e tecnologia. "Vamos aplicar a verba em todo o processo
de modernização do sistema", salienta.
As obras incluem a conclusão
do Paulistão (antigo Fura-Fila) até o meio do
ano que vem, além da construção de terminais
e corredores de ônibus, entre eles o polêmico
Rebouças.
Eleição
Bastou a Prefeitura receber o aval do CAE - com apenas um
voto contrário - e os vereadores paulistas já
começaram a questionar a aplicação do
empréstimo em ano eleitoral. "A prefeita (Marta
Suplicy, PT) vai sacrificar as próximas administrações
com esse empréstimo, inclusive a sua, em caso de reeleição",
criticou o vereador Ricardo Montoro (PSDB).
A Prefeitura tem 30 anos para quitar
a dívida, com taxa de 13% da renda líquida do
município. "Pagando esse valor, ela vai diminuir
as possibilidades de novos empréstimos, vai onerar
muito as contas da Prefeitura", disse. "A meu ver,
tem um viés de irresponsabilidade."
O vereador Roberto Trípoli
(PSDB) também se mostrou inconformado com o valor do
empréstimo. Ele fez uma relação entre
as eleições e a tentativa da prefeita de melhorar
o transporte público e, conseqüentemente, sua
imagem diante do eleitor. "Está comprovado que
o transporte é o grande calo no sapato da prefeita.
Mas por que ela deixou a população sofrer tanto
com a má qualidade do serviço, com passagens
caras e greves, e só em época de eleição
tentar melhorar o sistema?"
Trípoli comparou os investimentos
deste ano e os previstos no orçamento do município
para o ano que vem. "Houve um acréscimo de 134%
no investimento. Para este ano, estão previstos R$
684 milhões. Para o ano que vem, R$ 1,6 bilhão."
Atraso
Segundo o secretário, a verba destinada aos transportes
estava prevista havia dois anos e o projeto de modernização
do transporte em São Paulo foi entregue ao BNDES em
março.
"O dinheiro só não
foi liberado antes por causa deles mesmos, os tucanos. Já
era para ter chegado. E então não adianta falar
que a verba foi liberada para favorecer São Paulo nas
eleições", disse.
O secretário evita estender
a discussão, mas deixa escapar que a liberação
da verba não vai pôr fim à polêmica.
"Vamos pedir correção do valor global,
que está defasado", disse, sem explicar quando
isso deve ocorrer e qual será o reajuste. "Tudo
tem seu tempo, sua hora."
BÁRBARA SOUZA
De O Estado de S. Paulo
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