A ministra Benedita da Silva (Assistência
Social) divulgou, ontem, nota oficial na qual diz que continua
convicta de que não cometeu nenhuma irregularidade
na viagem que fez no dia 24 de setembro à Argentina.
A nota foi divulgada a propósito da recomendação
da Comissão de Ética Pública para que
ela devolvesse aos cofres públicos o dinheiro gasto
nessa viagem, que teria sido motivada por um encontro religioso,
conforme autorização publicada pelo "Diário
Oficial" da União.
"Já encaminhei ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e demais interessados todas
as provas e evidências de que cumpri uma agenda de trabalho
em Buenos Aires. Estou confiante de que a verdade prevalecerá.
Aguardarei o retorno do presidente ao país [hoje à
noite] para me pronunciar a respeito da recomendação
da comissão. Até lá, não farei
nenhum outro comentário sobre esse assunto", afirmou
a ministra na nota.
A nota foi divulgada pela assessoria
de Benedita ontem à noite, depois de uma análise
da recomendação feita pela Comissão de
Ética. Na documentação enviada à
Presidência da República - à qual a Comissão
de Ética teve acesso -, Benedita faz relato do seu
encontro com a ministra da Ação Social da Argentina,
Alícia Kirchner. Uma foto do encontro foi anexada ao
relatório.
A Comissão de Ética
também pediu à ministra esclarecimento sobre
o motivo pelo qual sua agenda de trabalho - que, segundo ela,
foi o motivo principal da viagem - não consta da autorização
publicada no "Diário Oficial". Benedita alega
que houve erro administrativo. A comissão voltará
a discutir o caso quando receber as explicações
que pediu à ministra, para então se pronunciar.
O presidente do PT, José Genoino,
voltou a defender ontem que a ministra devolva o dinheiro
gasto na viagem à Argentina. Só de passagem,
Benedita e uma assessora gastaram cerca de R$ 4.500; a diária
no exterior é de US$ 300. "Essa controvérsia
não é boa. A ministra deveria resolver logo
essa questão e devolver o dinheiro. Confio muito nela
pela sua trajetória", afirmou Genoino. Ele ressaltou,
no entanto, que o caso não é de corrupção,
e sim "uma relação entre o público
e o privado".
Na viagem, Benedita também
participou de uma reunião, marcada de última
hora, com a ministra Alícia Kirchner. O encontro, que
durou uma hora, foi agendado no dia anterior, procedimento
que não é comum quando se trata de agenda de
ministros.
"Para a história do PT e da Benedita, é
melhor que devolva o dinheiro. Ela não pode ficar nessa
controvérsia por muito tempo", disse. Questionado
se ela pode ser punida pelo partido se não devolver
o dinheiro, Genoino respondeu: "Não vou falar
do "se" porque quero que o "se" não
aconteça".
A Comissão de Ética
Pública analisa se, com a viagem, a ministra infringiu
o Código de Conduta da Alta Administração
Federal. O Ministério Público Federal abriu
um procedimento administrativo para investigar se Benedita
usou recursos públicos em benefício próprio,
o que seria um ato de improbidade administrativa.
Essa não é a primeira
controvérsia envolvendo a ministra no atual governo.
No final de agosto, a ministra instalou um grupo de trabalho
com 19 representantes de igrejas evangélicas e quatro
técnicos do ministério, que serviria de interlocutor
entre sua pasta e as igrejas na realização de
projetos sociais. Na época, Benedita, que é
evangélica, negou que estivesse favorecendo a igreja
nos projetos.
As informações são
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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