Uma semana após cancelar o racionamento nas cidades
abastecidas pelo sistema Alto Cotia (na Grande São
Paulo), a Sabesp voltou a anunciar o rodízio de água
para 440 mil moradores dos municípios de Cotia, Embu,
Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra e Vargem Grande Paulista
a partir das 6h de amanhã.
A volta do racionamento foi motivada
pela queda nos níveis da represa Pedro Beicht- de 8,2%
no último dia 13, após dois dias de chuva, para
5,8% na manhã de ontem. Há duas semanas, quando
o racionamento no Cotia foi anunciado, o sistema estava com
7,6% de sua capacidade. Os índices são os mais
baixos já registrados pela Sabesp na represa.
A suspensão do racionamento
na semana passada foi criticada por especialistas em recursos
hídricos, que afirmaram que a Sabesp adiava o inevitável
na tentativa de evitar um desgaste político. Para eles,
não havia razões técnicas que justificassem
a decisão.
Apesar dos baixos índices,
o secretário de Recursos Hídricos, Mauro Arce,
defendeu a medida. "Desgaste político seria se
não fizéssemos o racionamento. A Sabesp é
uma empresa de saneamento e não de racionamento. As
pessoas ficaram uma semana a mais com água." Mas
dessa vez, segundo o secretário, a medida será
"irreversível" e por tempo indeterminado.
A partir das 6h de amanhã,
os moradores dos municípios afetados ficarão
36 horas sem abastecimento e outras 36 horas com água.
Os bairros foram divididos em dois grandes grupos: um primeiro
ficará sem água das 6h do dia 22 até
18h do dia 23, o segundo grupo terá as torneiras vazias
das 6h do dia 25 até 18h do dia 26, e assim por diante.
Os moradores dos bairros localizados
em pontos mais altos ou longe dos reservatórios serão
os mais afetados, podendo ficar até 40 horas sem água.
"O racionamento não atinge as pessoas de forma
igual. Quem mora em bairros altos leva um tempo maior para
receber a água. A população de baixa
renda que não tem caixa-d'água também
sai mais prejudicada", afirma o secretário.
Escolas, delegacias, postos de saúde,
estações rodoviárias e hospitais terão
caminhões-pipa à disposição para
emergências.
A tabela com os bairros afetados e
os horários do corte será distribuída
em folhetos para a população e estará
no site da empresa, www.sabesp.com.br. O telefone 195, com
ligação gratuita, ficará disponível
24 horas para quem quiser esclarecer dúvidas.
Estado de alerta
De acordo com o secretário e o presidente da Sabesp,
Dalmo Nogueira, os sistemas Cantareira e Alto Tietê
estão em estado de alerta, mas não entrarão
em racionamento neste mês. O nível da água
nos sistemas também tem caído nas últimas
semanas.
No Cantareira, que abastece metade
da região metropolitana, o índice caiu de 9,4%
no dia 13 para 7,7% ontem. Se a capacidade do sistema chegar
a 5%, a captação da água poderá
ficar comprometida, uma vez que com o nível muito baixo
as máquinas captam terra e sujeira do fundo da represa,
dificultando o tratamento.
O Alto Tietê, responsável
por atender 2,7 milhões de moradores da Grande São
Paulo, teve uma redução pequena na última
semana (de 22% no dia 13 para 21,4% ontem), mas continua em
alerta. Uma decisão sobre o possível racionamento
nos dois sistemas saíra apenas em novembro, segundo
o secretário.
Para evitar racionamentos futuros,
o presidente da Sabesp afirmou que pretende estabelecer um
tipo de premiação nos próximos anos para
usuários que economizarem água. Seria uma maneira,
segundo Nogueira, de estimular a população a
gastar menos.
Outro projeto, para este ano ainda,
deverá ser anunciado em dez dias. Trata-se de convênio
com a Nossa Caixa para financiar a troca de válvulas
sanitárias antigas. "Uma válvula de bacia
sanitária antiga gasta cerca de 30 litros de água
por vez. Os novos modelos consomem de dois a seis litros e
os modelos a vácuo apenas um litro", explica Nogueira.
SIMONE IWASSO
Da Folha de S. Paulo
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