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O
número de brasileiros desempregados que estudaram 15
anos ou mais, atingindo o terceiro grau do ensino, cresceu
120,7% na última década. Esse é um dos
dados contidos no estudo O ciclo da financeirização
e a nova polarização social, divulgado nesta
quarta-feira, pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho
e Solidariedade, do município de São Paulo.
A pesquisa revela ainda como diminuiu o percentual de famílias
da classe média, na comparação com o
crescimento populacional do país, como conseqüência
da política econômica adotada no período.
Em 1992, aqueles desempregados com
curso superior completo ou para ser completado eram 92.564.
Em 2001, somavam 204.312 brasileiros, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos quais
a pesquisa foi baseada. Enquanto isso, os desempregados analfabetos
aumentaram de 407.561 para 494.318 no mesmo período,
crescimento de 21,3%, pequeno em relação à
alta registrada na camada populacional que atingiu o terceiro
grau escolar.
Em 1992, para cada quatro desempregados
analfabetos, havia um desempregado universitário. Agora,
a proporção é de cinco desempregados
analfabetos para dois universitários - afirmou o secretário
do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, Márcio
Pochmann.
Essa situação, de acordo
com o secretário, está intimamente ligada com
o que ele chama de ciclo de financeirização
da economia brasileira, iniciado no começo da década
passada, quando os ganhos do capital (basicamente, lucros
e juros) foram privilegiados em detrimento da renda do trabalho,
que perdeu participação no Produto Interno Bruto
(caiu de 44% do PIB, em 1992, para 36% em 2002).
Com os ganhos do capital, que se manteve
em 45% do PIB na última década, prevalecendo
sobre o trabalho, o crescimento do país não
poderia ter sido suficiente para absorver os 2,87 milhões
de universitários que entraram no mercado de trabalho,
o que levou muitos a buscarem ocupação em empregos
que exigiam qualificação inferior à obtida
na faculdade.
Aqueles com curso superior que trabalhavam
em atividades abaixo de sua qualificação somavam
425,3 mil, em 2001. Desses, 81,2 mil (19%) eram açougueiros
ou empregadores na indústria alimentícia. Droguistas,
floristas, galinheiros, lenheiros, peixeiros e sorveteiros,
com ensino superior, eram mais de 75 mil (17,8%). Mais de
53 mil com curso universitário (12,6%) desempenhavam
as funções de atendentes e recepcionistas. Entre
1992 e 2001, 2,050 milhões conseguiram emprego na área
em que se graduaram, e 111.748 formaram um exército
de desempregados qualificados.
A população entendeu
que era importante estudar e cumpriu o seu papel. Nunca tivemos
tantos universitários. Todavia, há um problema
de ocupação. A economia não cresce e
parte da renda do país estão direcionada para
aplicações financeiras, mais seguras do que
os investimentos na produção. Assim, falta emprego.
O maior número de vagas geradas não requer elevado
grau de instrução. Contraditoriamente, os empregadores
exigem mais qualificação como requisito para
fazer contratações - afirmou Pochmann, salientando
que são poucas as vagas geradas para o trabalhador
qualificado porque a economia do país não cresce.
Diante desse quadro econômico,
em que até os trabalhadores com ensino superior têm
dificuldades para obter emprego, seja na sua área e
em ocupações abaixo de sua qualificação,
Pochmann demonstra que isso afetou diretamente a classe média
brasileira, que encolheu na última década. Enquanto
a população cresceu 16,2% entre 1992 e 2001,
o número de pessoas vivendo em famílias de classe
alta (renda familiar per capita acima de R$ 594) cresceu no
mesmo ritmo (18,3%). Entretanto, a população
da classe média (renda familiar per capita entre R$
148 e R$ 594) aumentou apenas 12,6%. Já a classe baixa
(R$ 148 per capita) teve crescimento de 18,8%.
Esse crescimento da classe média
foi, portanto, abaixo do crescimento populacional, o que significa
o encolhimento da classe média. Houve uma polarização.
É o que os ingleses chamavam de two worlds, o mundo
dos pobres e dos ricos. A classe média, que colaborou
para reduzir os conflitos sociais durante o ciclo de industrialização
(1930-1980), com a geração de uma nova classe
consumidora, agora está regredindo, com uma sociedade
ocupada cada vez mais pelo trabalho com baixa remuneração
- concluiu Pochmann.
Comparando-se os anos de 1992 a 2001,
percebe-se que, enquanto 27,5% dos assalariados com carteira
recebiam menos de dois salários mínimos no início
da década de 90, este percentual atingia 47% no início
desta década. Dos 11,5 milhões de postos de
trabalho gerados no período, dois terços eram
de trabalhadores domésticos, sem carteira ou autônomos.
O outro um terço se distribuiu entre os assalariados
com carteira, funcionários públicos e empregadores.
As informações são
do jornal O Popular.
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