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Desemprego em alta, salários
em baixa, mão-de-obra não qualificada, baixa
escolarização e elevada rotatividade: esse é
o quadro do mercado de trabalho na América Latina,
descrito em detalhes na publicação do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), sob o título
"Procuram-se Bons empregos - o mercado de Trabalho na
América Latina". Pela primeira vez também
lançado simultaneamente em português, o estudo
analisa as causas do aumento do desemprego e aponta soluções
nada fáceis para sair desse círculo vicioso.
"As soluções não
são fáceis", admitiu o economista do BID,
Gustavo Márquez.
Ele afirmou que o crescimento é
condição necessária para romper o quadro
de pobreza e pouco emprego, mas não é o suficiente.
Outras políticas têm
de ser implementadas, inclusive as de transferência
direta de renda para pelo menos 10% da população
que, sem isso, não consegue obter o mínimo para
a sobrevivência.
Segundo o vice-presidente do BID,
Paulo Paiva, ex-ministro do Trabalho do Brasil, os analistas
apostam num crescimento de 4% para as economias da América
Latina em 2004. Aliado ao crescimento, a taxa de risco dos
países têm caído, ao mesmo tempo que vem
aumentando o fluxo de capitais para a região. O ministro
do Trabalho, Jaques Wagner, disse que mesmo um crescimento
da ordem de 3,5% ao ano não será suficiente
para fazer cair o desemprego. "Com essa taxa o desemprego
não aumenta, mas precisamos crescer acima de 3,5% para
reduzir a taxa."
As taxas de desemprego, segundo o
estudo do BID, aumentaram em vários países da
América Latina desde meados da década de 90
e, atualmente, se encontram no nível mais dos últimos
20 anos. O ganho de muitos trabalhadores é insuficiente
para tirá-los da pobreza e a desigualdade salarial,
que se situa entre as maiores do mundo, não dá
sinais de melhora.
O nível de desigualdade salarial
nada mais é, de acordo com os economistas que fizeram
o estudo, do que um reflexo da enorme desigualdade social.
Em larga proporção, essa desigualdade está
associada a grandes diferenças nos níveis de
qualificação, escolaridade e experiência,
que os trabalhadores levam para o mercado de trabalho.
Mais ensino pode ser um fator de redução
da desigualdade mas, de acordo com os especialistas, não
provocaria necessariamente, uma redução substancial
da pobreza.
Além disso, ao mesmo tempo
em que a probabilidade de perder o emprego é alta -
25% da força de trabalho fica desempregada ou muda
de emprego a cada ano -, apenas uma minoria dos trabalhadores
está protegida contra esse risco. A porcentagem de
trabalhadores cobertos por leis trabalhistas e sistemas de
proteção social é inferior a 50%.Os salários,
por sua vez, outro indicador da saúde do mercado de
trabalho, caíram ou aumentaram muito lentamente.
Mesmo com metade da força do
trabalho na informalidade, o estudo do BID contesta a idéia
de que os trabalhadores encontram-se no setor informal contra
a sua vontade. Pesquisas realizadas no Brasil e no México
documentam que uma parte considerável desses trabalhadores
preferem esse status a empregos formais porque obtêm
ganhos mais altos e desfrutam de maior independência.
Vânia Cristino
O Estado de S. Paulo
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