Um dos principais entraves ao desenvolvimento
científico e tecnológico do Brasil sempre foi
a falta de investimento da maioria das empresas em pesquisas.
Ao contrário de países como Estados Unidos e
Coréia do Sul, onde o grosso desses investimentos vem
do setor privado, no Brasil isso fica a cargo do Estado, das
universidades e centros de pesquisa.
Aos poucos, porém, isso está mudando. Forçadas
a competir num mercado globalizado, até mesmo pequenas
e médias empresas estão apostando em pesquisa
e tecnologia. Um exemplo é a Intermed Equipamentos
Médicos Hospitalares Ltda., com cem funcionários
e faturamento anual de R$ 30 milhões.
Há três anos a empresa resolveu dar uma guinada
e aumentar o investimento em pesquisa. “Este ano vamos
investir cerca 10% de nosso faturamento nessa atividade”,
diz seu diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Jorge Bonassa.
“É mais do que nossa média histórica,
que é de 6%.”
Prêmio
O resultado foi o aumento de suas exportações,
que passaram de US$ 41,3 mil em 2000 para US$ 1,2 milhão
este ano. Além disso, hoje a empresa detém sete
patentes. O seu produto de maior sucesso é um ventilador
pulmonar, equipamento usado em UTIs para ajudar pacientes
a respirar.
Aperfeiçoado com a ajuda do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), o aparelho, exportado para 23 países,
recebeu na semana passada o Prêmio Design Museu da Casa
Brasileira. Para conseguir isso, a Intermed contou com o apoio
do Programa de Apoio Tecnológico à Exportação
(Progex) do IPT. O objetivo do programa é ajudar as
empresas, por meio de investimentos e assessoria técnica,
a incorporar tecnologia a seus produtos visando ao mercado
externo.
O Progex começou em 1999 em São Paulo, mas
hoje é nacional, contando com a participação
de outros institutos tecnológicos em mais dez Estados.
Segundo a coordenadora da Área de Projetos Especiais
do IPT, Mari Katayama, o Progex está ajudando a mudar
a cabeça de parte dos empresários brasileiros.
“Até há pouco eles não tinham a
cultura de investir em pesquisa”, diz. “Mas isso
está mudando. Aqueles que começam a investir
nessas atividades não param mais. Os resultados são
compensadores.”
Outras empresas estão seguindo caminho semelhante
ao da Intermed. É o caso da Fanem Ltda., que fabrica
equipamentos para UTIs neonatais e laboratórios. Historicamente
a empresa sempre investiu cerca de 4% de seu faturamento anual
em pesquisa e desenvolvimento, que em 2003 será de
R$42 milhões. “Neste ano esse índice será
de 6%”, afirma Djalma Luiz Rodrigues, diretor industrial
da Fanem. “Atuamos num ramo que exige investimentos
em pesquisa. Se não fizermos isso, seremos ultrapassados.”
O setor todo parece estar consciente disso. Segundo Rodrigues,
que também é presidente da Associação
dos Fabricantes de Produtos Médicos e Odontológicos
(Abimo), as empresas desse ramo estão aumentando os
gastos em pesquisa e desenvolvimento. “A média
de dispêndios do setor com essas atividades vinha sendo
de 4% do faturamento”, explica Rodrigues. “Em
2003, subiu para 5,3%.”
Não é pouco dinheiro. A Abimo reúne
269 empresas, que têm um faturamento anual conjunto
de US$ 1,5 bilhão.
Conectores
Também atuando num ramo de tecnologia de ponta,
a Fotonica Tecnologia Óptica Ltda., de Campinas, também
elevou os gastos com pesquisa, de 5% para 10% de seu faturamento,
de R$ 4 milhões. A empresa fabrica conectores que ligam
equipamentos de transmissão de dados e imagens a redes
de fibra óptica
e tem entre seus clientes a Rede Globo. “Para nós,
investir em pesquisa é questão de sobrevivência”,
diz o diretor da Fotonica, Walter Carvalho. “Ou a gente
desenvolve soluções e produtos próprios
ou
não tem futuro.”
Enquanto isso, companhias de maior parte estão indo
mais longe. Além de investir, estão criando
institutos de pesquisa privados. É o caso da Gradiente,
que criou o Instituto Genius, com sede em Manaus, em 1999,
quando a empresa estava associada à Nokia. Hoje as
duas estão separadas e o Genius é independente,
tendo, no entanto, como principal cliente a Gradiente.
“Também desenvolvemos pesquisas e produtos
para outras empresas, como a Siemens”, explica Régis
Guimarães, consultor do instituto. “Estamos desenvolvendo
softwares para TVdigital, sistema de reconhecimento de voz
e um telefone celular nacional. Para isso, nosso orçamento
este ano é de R$ 20 milhões.”
Evanildo da Silveira,
d o O Estado de S.Paulo.
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